Fui agredida como mulher, parlamentar e mãe, diz Maria do Rosário

“Vou processá-lo criminalmente”, ressaltou a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), agredida verbalmente pelo deputado Jair Bolsonaro durante sessão da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (9).

Maria do Rosário (PT-RS) - Antonio Cruz/Agencia Brasil

“Fui agredida como mulher, como parlamentar, como mãe. Chego em casa e tenho que explicar isso para a minha filha”, declarou a ex-ministra dos Direitos Humanos, em entrevista à Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (10).

Bolsonaro subiu à tribuna logo após um discurso da parlamentar e disse: “Falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir”.

Emocionada, Maria do Rosário disse não estar em condições de continuar a entrevista. “Não quero meu nome na voz de alguém que tem uma atitude como esta. Vocês me desculpem, fiquei bastante emocionada. Vou seguir meu trabalho. Não tenho mais condições de seguir a entrevista. Sugiro que as mulheres tenham força e dignidade para seguir esta luta”, concluiu.

Redes sociais

A parlamentar se pronunciou no Facebook sobre a discussão que teve um dia antes com o também deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em sua página da rede social, ela compartilhou uma imagem com um dado alarmante sobre os crimes de estupro no Brasil e escreveu a hashtag #NenhumaMulherMereceSerEstuprada.

A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados também usou o Facebook para se posicionar. Além de postar uma foto com os dizeres "Ei, Bolsonaro, cai na real, ninguém merece ser estuprada", a instituição divulgou uma nota de repúdio.

"A fala do deputado Jair Bolsonaro, em que afirma que 'não estupraria a parlamentar porque ela não mereceria', é um explícito ato de violência contra as mulheres brasileiras; uma ofensa à moral da parlamentar; um ato que atenta contra a imagem da Câmara dos Deputados; e uma evidente transgressão ao art. 3º, inciso III, art. 4º, inciso I, e art. 5º, inciso III, do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, que merece ser exemplarmente punida (…). No dia que antecede o encerramento das atividades dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, realizadas em mais de 150 países, a Câmara dos Deputados do Brasil sofre essa vergonha, que não pode, mais uma vez, ficar impune", diz o comunicado.

A confusão entre Rosário e Bolsonaro aconteceu nesta terça-feira (9) no plenário da Câmara. Após discursar a favor da Comissão da Verdade e das investigações dos abusos da ditadura militar, ela se dirigiu à saída do local e foi interrompida por ele. Militar de reserva, Bolsonaro contou que havia sido chamado de "estuprador" por ela em uma situação anterior e rebateu afirmando que não iria estuprá-la "porque ela não merece".

Tópico do Twitter

As declarações de Bolsonaro causaram indignação nas redes sociais e o termo #Rosário virou um dos dez tópicos mais comentados pelos brasileiros no Twitter. Pelo Facebook mais de 4,8 mil pessoas haviam confirmado presença num evento intitulado “Cassem o Bolsonaro – #CassaçãodoBolsonaroJá! #EleNãoNosRepresenta”.

Na página, os organizadores chamam a sociedade a “dar uma resposta ao deputado federal Bolsonaro pelo Twitter”. Foi realizado, às 11 horas da manhã desta quarta (10), um ‘tuitaço’ com as hashtags #CassaçãodoBolsonaroJá!, #BolsonaroNinguémMerece e #DeputadosCassemBolsonaro.

Outra página, criada pelo jornalista Nelson Neto, pela advogada da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Irina Karla e pela professora Mila Grossi, propõe uma denúncia coletiva pela cassação do deputado.

“É a segunda vez que o parlamentar do PP agride a deputada Maria do Rosário com esse tipo de discurso, que incentiva a cultura do estupro. A primeira foi em 2003, quando ambos também eram congressistas”, afirmou Neto, a jornalistas.

A ideia é enviar um abaixo-assinado registrando a queixa para a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, a Ouvidoria da Mulher, a Procuradoria-Geral da República e o presidente da Câmara dos Deputados. Criada na terça-feira por volta das 19 horas, a denúncia coletiva contava, até o momento, com 719 assinaturas.

Reincidente

Esta é a segunda vez em que Bolsonaro, na condição de deputado, diz que não estuprará Maria do Rosário porque ela não merece. Em novembro de 2003, ele discutiu com ela, que era deputada, diante das câmeras da RedeTV! no Congresso Nacional.

A então deputada acusou Bolsonaro de promover violência, inclusive violência sexual: “O senhor promove sim”, dizia a deputada. “Grava aí que agora eu sou estuprador”, retrucou ele. “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”, esbravejou.

Diante da fala, Maria do Rosário disse que daria uma bofetada em Bolsonaro se este tentasse algo. Bolsonaro não se conteve e ela passou a receber empurrões do deputado, que respondia “dá que eu te dou outra”, antes de começar a chamá-la de “vagabunda” e ser contido pelos seguranças da Câmara.

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Fonte: Portal Terra, Brasil 247 e Correio do Brasil