‘Crise de gestão’ ameaça combate à pandemia, dizem ex-ministros

Ex-ministros de Dilma Rousseff dizem que ‘democracia no Brasil está na UTI’, e que saída de Teich marca ‘elogio da não competência’ no ministério da Saúde

Ministros do segundo governo de Dilma Rousseff: Eugênio Aragão e Renato Janine Ribeiro

Na opinião dos ex-ministros Renato Janine Ribeiro (Educação) e Eugênio Aragão (Justiça), o governo Bolsonaro ignora os conceitos de gestão na área da saúde e é irresponsável no enfrentamento da pandemia de covid-19. Alexandre Padilha (Saúde) disse que o ministro não pode enfrentar o projeto genocida de Bolsonaro.

“A saída de Teich é a prova mais cabal de que o Brasil está numa crise de gestão total. Nem um ministro que era empresário da saúde deu conta”, diz Aragão. O agora ex-ministro é sócio da Teich Health Care, uma empresa de consultoria de serviços médicos.

“O problema maior da covid no Brasil é a falta de gestão. Se os países que têm gestão de primeira qualidade estão passando por dificuldade, imagina um país sem gestão como o nosso, cheio de problemas sociais para cuidar”, acrescenta.

Aragão acredita que a demissão de Teich é mais um episódio que se insere na conjuntura da grave crise política do país. “A gente está caminhando para uma ruptura, mas qual o sentido dessa ruptura ainda não sei. Mas que, em determinado momento vai acontecer, vai. A democracia no Brasil está na UTI.”

“É muito preocupante. É uma situação de elogio da não competência”, diz Janine Ribeiro. Para ele, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta “caiu mais por suas qualidades, e não por seus defeitos, e depois Teich cai  porque não quer seguir as idiossincrasias do presidente, que não tem conhecimento da área”.

Para Aragão, no caso de Nelson Teich, “ele não conseguiu fazer rigorosamente nada, ficou um mês vendo navios, e depois viu que não poderia fazer nada e saiu”.

O saldo no combate à pandemia de covid-19 “é trágico”, diz o jurista. Na segunda-feira (11), o agora ex-ministro Teich escreveu no Twitter que a cloroquina, defendida por Bolsonaro como eficaz no tratamento da doença, é “um medicamento com efeitos colaterais”. Disse ainda que “qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica”.

A colocação esquentou o óleo da fritura que já estava em temperatura alta. “A saída de Teich tem a ver também com a cloroquina, porque Bolsonaro põe umas coisas na cabeça e quer impor a ferro e fogo. A cloroquina foi apenas o estopim, ele não tinha o que fazer.”

O ministro da Saúde Alexandre Padilha

“Mal aterrissou de paraquedas na Saúde, já foi apeado, porque poderia ser um obstáculo ao projeto genocida de Bolsonaro”, diz o ex-ministro da Saúde, médico e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que lançou o programa Mais Médicos em julho de 2013, no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Segundo Padilha, Bolsonaro “quer no Ministério da Saúde alguém que não seja uma voz dissonante ao seu projeto genocida, alguém que não realize nenhuma ação”. Nos últimos 30 dias, de acordo com o petista, não chegou no país mais nenhum respirador mecânico, nem testes, médicos ou proteções aos trabalhadores da saúde.  

Para Padilha, a cloroquina é uma “peça de marketing” do presidente brasileiro. “Nenhum estudo mostra sua eficácia, pelo contrário, os estudos mostram reações adversas. Mas Bolsonaro sabe que seu projeto genocida de colocar os trabalhadores sob risco de vida precisa ter a promessa de um medicamento no qual se apegar”, diz o ex-ministro sobre o remédio para malária que o presidente insiste em tornar protocolar contra a covid-19 mesmo com ampla reprovação científica em todo o mundo.

Publicado na Rede Brasil Atual

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