‘Carta renúncia de Bolsonaro já está sendo negociada nos bastidores’

Segundo a colunista do jornal Valor, Maria Cristina Fernandes Bolsonaro, não teria 10% dos votos em plenário da num impeachment, mas se trata de um processo difícil diante de um parlamento virtual

(Foto: José Cruz/Agência Brasil)

No Valor Econômico desta quinta-feira (26), Maria Cristina Fernandes diz que o combate à pandemia do coronavírus gerou um consenso contra o presidente Bolsonaro que se encontra em completo isolamento.

Segundo a colunista, diante de um déficit de legitimidade de um impeachment virtual, ganha força a saída por renúncia em troca de seu bem mais valioso, a liberdade dos filhos.

Embora não tenha 10% dos votos em plenário, na análise dela o impeachment de Bolsonaro ainda é de difícil viabilidade.

“Motivos não faltariam. Os parlamentares dizem que Bolsonaro, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff, já não governa. Se uma caiu sob alegação de que teria infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, o outro teria infrações em série contra uma lei de responsabilidade social. Permanece sem solução, porém, o déficit de legitimidade de um impeachment em plenário virtual”, argumentou.

Diante desse quadro, ganha corpo, até nos meios militares, de uma saída do presidente por renúncia.

Liberdade dos filhos

“O problema é convencê-lo. A troco de que entregaria um mandato conquistado nas urnas? O bem mais valioso que o presidente tem hoje é a liberdade dos filhos. Esta é a moeda em jogo. Renúncia em troca de anistia à toda tabuada: 01, 02 e 03. Foi assim que Boris Yeltsin, na Rússia, foi convencido a sair, alegam os defensores da solução”, revelou.

A colunista revela alguns estorvos como a inexistência de anistia para uma condenação inexistente.

A segunda é que ao fazê-lo, a legião de condenados da Lava-Jato entraria na fila da isonomia, sob a alcunha de um “Pacto de Moncloa” tupiniquim.

A terceira é que o Judiciário, agastado com o bordão que viabilizou o impeachment de Dilma (“Com Supremo com tudo”), resistiria a embarcar. E finalmente, a quarta: Quem teria hoje autoridade para convencer o presidente? Cogita-se, à sua revelia, dos generais envolvidos na intervenção do Rio, PhDs em milícia.

Segundo ela, a tese do afastamento do presidente viralizou nas instituições. O combate à pandemia já havia unido o país, do plenário virtual do Congresso Nacional ao toque de recolher das favelas.

“Com o pronunciamento em rede nacional, o presidente conseguiu convencer os recalcitrantes de que hoje é um empecilho para a batalha pela saúde da nação. Se contorná-lo já não basta, ainda não se sabe como será possível tirá-lo do caminho e, mais ainda, que rumo dar ao poder em tempos de pandemia.”

Ela revela que Bolsonaro não tem apoio das Forças Armadas. Um fato que ele já sabia ao “desafiar a unanimidade nacional, no uniforme de vítima de poderes que não lhe deixam agir para salvar a economia”.

Por fim, a colunista diz que a única razão para se continuar nesta pedreira é que, por ora, não há outra saída. Na hipótese de se viabilizar, o capitão pode estar a caminho de encerrar sua carreira política como começou.

“Condenado por ter atentado contra o decoro, a disciplina e a ética da carreira militar, Bolsonaro foi absolvido em segunda instância. Em ‘O cadete e o capitão’ (Todavia, 2019), Luiz Maklouff, esboça a tese de que a absolvição foi a saída encontrada para o capitão deixar a corporação. Em seguida, o Bolsonaro disputaria seu primeiro mandato como vereador no Rio. Trinta e quatro anos depois, a borracha está de volta para esfumaçar o passado. Desta vez, com o intuito de tirá-lo da política”.

Leia a íntegra do artigo:

A carta da renúncia

A costura de uma renúncia, como saída, passa pela anistia aos filhos

A tese do afastamento do presidente viralizou nas instituições. O combate à pandemia já havia unido o país, do plenário virtual do Congresso Nacional ao toque de recolher das favelas. Com o pronunciamento em rede nacional, o presidente conseguiu convencer os recalcitrantes de que hoje é um empecilho para a batalha pela saúde da nação. Se contorná-lo já não basta, ainda não se sabe como será possível tirá-lo do caminho e, mais ainda, que rumo dar ao poder em tempos de pandemia. A seguir a cartilha do presidiário Eduardo Cunha, seu afastamento apenas se dará quando se encontrar esta solução. E esta não se resume a Hamilton Mourão.

Ao desafiar a unanimidade nacional, no uniforme de vítima de poderes que não lhe deixam agir para salvar a economia, Bolsonaro já sabia que não teria o endosso das Forças Armadas para uma aventura que extrapole a Constituição. Era o que precisaria fazer para flexibilizar as regras de confinamento adotadas nos Estados. Duas horas antes do pronunciamento presidencial, o Exército colocou em suas redes sociais o vídeo do comandante Edson Leal Pujol mostrando que a farda hoje está a serviço da mobilização nacional contra o coronavírus.

Saída a ser costurada passa pela anistia aos filhos

Pujol falou como comandante de uma corporação que tem a massa de seus recrutas originários das comunidades mais pobres do país, hoje o foco de disseminação mais preocupante para as autoridades sanitárias. Disse que agirá sob a coordenação do Ministério da Defesa. Em nenhum momento pronunciou o presidente. Moveu-se pela percepção de que uma tropa aquartelada hoje é mais segura que uma tropa solta. Na mão inversa do trem desgovernado do discurso presidencial daquela noite.

Quando já estava claro que descartara o papel de guarda pretoriana, Pujol reforçou a importância do combate ao coronavírus: “Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”. Vinte e quatro horas depois, o vídeo ultrapassava 500 mil visualizações, mais do que o dobro do efetivo do Exército.

O distanciamento contaminou os ministros militares com assento no Palácio do Planalto. “Não quero ter minha digital nisso”, comentou um deles ao perceber o rumo provocativo que o pronunciamento da noite de quarta-feira teria. Deixou o Palácio antes da gravação, conduzida sob o comando dos filhos e da milícia digital do bolsonarismo.

A insistência do presidente na tese esticou a corda com os governadores e com o Congresso, que amanheceu na quarta-feira colocando pilha na saída do ministro Luiz Henrique Mandetta. A pressão atingiu o pico do dia com o rompimento do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), com o presidente. Aliado de primeira hora de Bolsonaro, presença mais frequente, entre seus pares, nas solenidades do Palácio do Planalto, Caiado foi um dos principais padrinhos de Mandetta, um deputado do Mato Grosso do Sul que não disputou em outubro de 2018 porque temia não se reeleger.

O ministro negaria a demissão num entrevista em que citou Caiado, mas não Bolsonaro. O Congresso mantinha a aposta na saída de Mandetta como mais um tapume no isolamento do presidente quando João Doria, na reunião de governadores com o presidente, partiu para o confronto. O discurso de palanque do governador de São Paulo não é unanimidade entre os envolvidos em busca de uma solução de consenso, especialmente os da farda, mas sua ação deliberada para levar os governadores a recusar interlocução com o presidente, caiu como uma luva para a estratégia de levar Bolsonaro ao limite do isolamento.

Para viabilizar o enfrentamento dos governadores, o Congresso busca meios de manter o acesso dos Estados a recursos com os quais possam manter suas políticas de combate à doença, hoje confrontadas pelo Planalto. O pronunciamento acabou por frear a proposta de emenda constitucional com a qual se pretendia criar um orçamento paralelo para viabilizar as ações de Bolsonaro no combate à pandemia e calar a tecla com a qual o presidente se diz impedido de agir pelo Congresso. Cogitou-se até incluir nesta PEC instrumentos com os quais Bolsonaro poderia ter mais poderes sobre o confinamento e o confisco de insumos hospitalares, como meio de evitar o Estado de Sítio.

Ainda que Bolsonaro hoje não tenha nem 10% dos votos em plenário, um processo de impeachment ainda é de difícil de viabilidade. Motivos não faltariam. Os parlamentares dizem que Bolsonaro, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff, já não governa. Se uma caiu sob alegação de que teria infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, o outro teria infrações em série contra uma “lei de responsabilidade social”. Permanece sem solução, porém, o déficit de legitimidade de um impeachment em plenário virtual.

Vem daí a solução que ganha corpo, até nos meios militares, de uma saída do presidente por renúncia. O problema é convencê-lo. A troco de que entregaria um mandato conquistado nas urnas? O bem mais valioso que o presidente tem hoje é a liberdade dos filhos. Esta é a moeda em jogo. Renúncia em troca de anistia à toda tabuada: 01, 02 e 03. Foi assim que Boris Yeltsin, na Rússia, foi convencido a sair, alegam os defensores da solução.

Não faltam pedras no caminho. A primeira é que não há anistia para uma condenação inexistente. A segunda é que ao fazê-lo, a legião de condenados da Lava-Jato entraria na fila da isonomia, sob a alcunha de um “Pacto de Moncloa” tupiniquim. A terceira é que o Judiciário, agastado com o bordão que viabilizou o impeachment de Dilma (“Com Supremo com tudo”), resistiria a embarcar. E finalmente, a quarta: Quem teria hoje autoridade para convencer o presidente? Cogita-se, à sua revelia, dos generais envolvidos na intervenção do Rio, PhDs em milícia.

A única razão para se continuar nesta pedreira é que, por ora, não há outra saída. Na hipótese de se viabilizar, o capitão pode estar a caminho de encerrar sua carreira política como começou. Condenado por ter atentado contra o decoro, a disciplina e a ética da carreira militar, Bolsonaro foi absolvido em segunda instância. Em “O cadete e o capitão” (Todavia, 2019), Luiz Maklouff, esboça a tese de que a absolvição foi a saída encontrada para o capitão deixar a corporação. Em seguida, o Bolsonaro disputaria seu primeiro mandato como vereador no Rio. Trinta e quatro anos depois, a borracha está de volta para esfumaçar o passado. Desta vez, com o intuito de tirá-lo da política.

Fonte: Valor

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13 comentários para "‘Carta renúncia de Bolsonaro já está sendo negociada nos bastidores’"

  1. Terezinha Maria Bueno Bueno disse:

    Todos os governadores, estão fazendo o que, pode.

  2. Darcy Brasil disse:

    Duvido que alguém seja capaz de convencer o miliciano a renunciar. Duvido que o miliciano, cada vez mais acuado, não venha tentar aplicar um golpe de estado em resposta a essa pressão de bastidores, a essa solução por cima, sem a participação dos “de baixo”, negociada entre os próceres das oligarquias. A renúncia negociada do miliciano é a opção sonhada pela corrente de direita que o jornal Valor representa, é a fórmula ideal para os que desejam a saída de Bolsonaro e a continuidade do programa neoliberal de Paulo Guedes, mesmo que sejam necessárias algumas concessões aos setores populares, como uma maior atenção ao SUS.. Assumiria o general Mourão. O alinhamento da mídia corporativa tradicional ao “novo” governo seria automático. A Globo voltaria a figurar como emissora porta-voz semioficial do governo, reavendo as verbas de publicidade do governo federal, passando a cobrir de elogios em sua programação a suposta habilidade política do general presidente, que seria comentada diuturnamente, fazendo-a contrastar com a truculência de Jair Bolsonaro, tomando-o desde já como um bom nome para ser eleito em 2022. Morão, aconselhado por Ali Kamel, convidaria as mulheres jornalistas da grande mídia para um ato de confraternização, em que se distribuiria flores e presentes, e se apresentaria alguém como a Andréia Sadi como a indicada para ser a porta-voz oficial do governo. Dado o cenário de terra arrasada promivido pelo desgoverno bolsonarista, não seria difícil transformar Morão num nome viável para representar a plutocracia em 2022. Bastaria fazer com que ele demonstrasse um pouco mais de apreço por algumas áreas atacadas violentamente por Bolsonaro, como a Saúde, a Cultura e a Educação. Bolsonaro e todos os seus ministros figurariam assim como aquele bode que se põe na sala para negociar, o que pareceria a alguns que sua eleição teve exatamente esse propósito maquiavélico. Todo mundo, por exemplo, ficaria imensamente comovido com a saída da “cabra”, quer dizer, da Damares de seu ministério, e a colocação de um autêntico defensor dos direitos humanos em seu lugar. Os recursos para a cultura voltariam a ser disponibilizados. Um negro identificado com a causa seria escolhid para a Fundação Palmares. A Ancine reativida, tendo alguém como Daniel Filho à sua frente. A retirada do “bode”, quer dizer, da besta quadrada do Ministério da Educação e sua substituição por um intelectual do PSDB traria grande alívio para uma parte expressiva do mundo acadêmico: panelaços, não de protestos, mas de alegria, se ouviriam nesse dia nos bairros de classe média. O mercado financeiro, embora eternamente agradecido pelos serviços prestados ao parasitismo rentista por Paulo Guedes, aproveitaria para substituir o seu estilo brucutu , que se harmonizou com perfeição com o estilo miliciano fascista de Bolsonaro, por um nome mais educado, mais articulado politicamente, em sintonia com a necessidade de se adaptar aos novos tempos, nomeando, provavelmente, Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda. O lobista de George Soros, já no primeiro dia à frente da pasta, confirmaria sua defesa de uma “renda mínima”, vocalizando a reciclagem programática do FMI, sítio dos intelectuais orgânicos da plutocracia financeira que, como acontece com todos os membras da vanguarda de uma classe social, captaram os sinais de mudança que ameaçam a existência do mundo capitalista ocidental com a emergência do polo sino-russo de poder, conscientes de que, se o lado de cá não passar a oferecer algumas vantagens que compensem o desejo cada vez mais comum de ter nascido na China, a hecatombe do imperialismo será inevitável. Se Bolsonsro renunciasse, pareceria uma coisa excelente, mas deixaria a esquerda, com seu atual nivel de desorganização e falta de unidade, completamente aturdida.

  3. Moshelio Alves disse:

    Na minha opinião ele nâo vai entregar o osso assim tâo fácil. Ele ainda tem os militares, os evangélicos e milhares de fanáticos ignorantes e covardes, armados até aos dentes…..Renúncia pra mim esta muito longe.

  4. Luiz Barbosa disse:

    Acho que levantar questão como essa em um momento tão umdelicado como este que estamos passando é prestar um desserviço a nação. O Presidente expressou a opinião dele, o que éramos perfeitamente legítimo em um regime como o nosso que permite a liberdade de expressão. Aliás, opinião que coincide com a opinião de milhares de brasileiros, principalmente empresários. Acho que o mais sensato e justo seria somar esforços para que possamos amenizar as consequecias da pandemia em nosso povo e não levantar questão política que nenhum benefício trará ao povo neste mento de dor.

  5. Iburã Lima Mathias disse:

    . é .. tudo pode acontecer. Não há mal que sempre dure…. A missão de nosso presidente chegou ao fim de forma grotesca. Nao há absolutamente um campo razoável para o pouso de Bolsonaro. A massa que o elegeu hoje transita na Seara do arrependimento e pipocam as missivas da turma do Eu Avisei. Negociar é coisa tupiniquim como fizeram com Dilma que foi defenetrada no interesse de muitos mas salva pelos mesmos que armaram e desceram a guilhotina. O certo é que o clima Bolsonarista é decadente e facilmente visível nas redes sociais defendida sempre pelos mesmos, sempre eles, eles, eles. Mourão, acaso alguém convença Bolsonaro da Renuncia, por melhor que seja não assumirá porque assim diz a Constituição. Novas eleições presidenciais o povo não estará preparado. E quem serão os candidatos? Renunciando, por certo entrará em cena o acordo Tupiniquim. Não tenham dúvidas.

  6. marcus disse:

    E entrar no palácio do planalto, prender o BoçalNaro e toda sua familia mafiosa. Nada de anistia, passar pano, perdão etc.
    O Grande erro pós ditadura foi o perdão dos militares.
    Anistiar o que se o Ministro Toffoli não deixa processar o Eduardo Bananinha, Flavio Laranjinha e Carlos Frutinha?

  7. shirley lopes disse:

    Pra mim vcs não tem o que fazer são recalcados assumam o Brasil está sendo o melhor ‘de todos os tempos viva o Bolsonaro

  8. Mirtes Lourenço Camilo disse:

    E ter muita coragem para gritar viva, a um presidente que ameaca expor sua gente a pandemia.

  9. Oscar Pimentel disse:

    Exatamente, renuncia não existe no dicionários de quem ama a liberdade, ama ajudar ao próximo, e faz de tudo por seu povo, realmente na cabeça de um Soldado de Deus renuncia e’ algo que só passa na cabeça de bandidos comunistas do caviar, esses anos de pt fizeram essa raça acreditar que conseguiriam tombar um povo bom e alicerçado sobre colunas de amor sólidas como aço, SRS. Comunistas do Caviar se mudarem sua maneira de pensar e aprenderem a dividir o pao irão o quanto antes se encontrar na nova era que entramos, nos vos aguardamos.

  10. Zé Eu pessoalmente votei e votaria outras vezes sé preciso for BOLSONARO!E ELE NÃO PQ RENÚNCIA MELHOR PRESIDENTE AQUELES QUÊ SÃO CONTRA É TITICA DE CORRUPTOS E CORRUPTORES SUBIVERSIVOS QUE VENDEM SUÁ PATRIA PARA CHINÊS LADRÕES COMUNISTAS.

  11. Samuel Melo disse:

    Amor? Oscar Pimentel, me diga onde que tá esse amor na política desse ex deputado. O cara só prega ódio e preconceito. E sua política segue esse discurso. Tem que tombar, esse covarde traidor da pátria.

  12. Vinicius Antonio Zanetti Garcia disse:

    Ele é egocêntrico demais para fazer um acordo desta espécie, vejo este tipo de notícia sendo propagada desde o ano passado, mais reitero, ele é tremendamente egocêntrico e este tipo de recurso (renúncia) através desse tipo de acordo (real ou não) seria uma confissão de tudo, manchando a imagem de “mito” dos fascistóides que o idolatram.

  13. Maria de Lourdes Monteiro Lopes disse:

    Penso

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