De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A cientista política e especialista em relações internacionais, Ana Prestes analisa os principais fatos do dia. Ela destaca a visita de Bolsonaro aos EUA, o encontro entre o deputado Rodrigo Maia e o presidente da Câmara dos Deputados da Argentina, Sergio Massa, a perseguição a Julian Assange e a guerra civil no Sudão do Sul.

Bolsonaro vai aos EUA no final de semana (7) e fica até dia 10. Vai a Miami e ainda não está certo se haverá um encontro com Trump, pode haver um encontro “informal” segundo se especula hoje na imprensa que faz cobertura do Itamaraty. Bolsonaro vai atendendo a um convite do senador republicano Rick Scott, e lá também estará o senador Marco Rubio, conhecido por sua militância anti-Cuba e Venezuela. No dia 9 o presidente participa de um seminário empresarial. Tentando justificar essa visita meio sem pé nem cabeça, o Itamaraty reforçou que o Brasil é o principal parceiro comercial do estado da Flórida, antes da China inclusive. Um dos pontos que tem sido muito insuflado na agenda é a provável assinatura de um acordo militar que envolve pesquisa, desenvolvimento, testes e avaliação na área da defesa. O texto original do acordo foi de iniciativa dos EUA ainda sob o governo Temer, em 2017.

Esteve ontem no Brasil o presidente da Câmara de Deputados da Argentina, Sérgio Massa. Visitou a Câmara dos Deputados a convite do grupo parlamentar Brasil-Argentina hoje presidido pelo senador Fernando Collor. Apesar de não estar previsto na agenda oficial original, Massa esteve com Bolsonaro no Palácio do Planalto. No dia em que no Brasil só se falava do pibinho de 1,1%, o parlamentar argentino disse na conferência de imprensa pós-agendas que a relação entre a Argentina e o Brasil é muito importante “em um mundo que não cresce, um mundo que enfrenta dificuldades em matérias econômicas e dificuldades acidentais que impacta na economia, como o coronavirus”. Massa ainda se reuniu com o presidente do STF, Dias Toffoli e líderes de partidos no Congresso Nacional.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, vem passando por um processo de tortura física e psicológica que tem alertado todo o mundo. A denúncia mais recente veio por parte de um relator da ONU sobre torturas, Nils Mezer. As denúncias vem ao mesmo tempo em que se inicia seu julgamento de extradição no Reino Unido. Seus advogados temem pela sua vida, caso seja extraditado para os EUA, onde está condenado a 175 anos de prisão por “violação de documentos militares secretos”. Na verdade, quem está no banco dos réus com Assange é a própria garantia da liberdade do exercício do jornalismo.

No Sudão do Sul parece haver uma possibilidade de fim para a guerra civil que já dura seis anos. Houve um acordo entre o presidente Salva Kiir e o líder da oposição Riek Machar para formar um governo de união nacional. Os últimos anos foram marcados pela fome, a violência, a violência sexual e o contínuo recrutamento de “crianças-soldados” por ambas as partes do conflito, segundo relatório da ONU. Ano passado (2019) uma jovem médica brasileira, Nádia Rudnick, catarinense, ficou mundialmente conhecida por ser à época a única cirurgiã de trauma do país. Ela trabalhou pela Cruz Vermelha Internacional. Nádia atuou em um país em que de cada quatro crianças, três só conheceram a guerra até então, pois há tempos as escolas estavam interditadas. Lá ela realizava cerca de seis cirurgias por dia. A torcida é para que a reconciliação nacional seja realmente efetivada.

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