Desmonte da Petrobras agrava a crise e aumenta o desemprego 

O Projeto de Lei 4567/16, originalmente proposição do ministro interino José Serra, é mais um ataque ao direito do povo brasileiro à educação e também ao emprego. Defendido pelo governo provisório de Michel Temer, o PL retira da Petrobras a condição de operadora única do Pré-sal. Para Divanilton Pereira, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a iniciativa sepulta verbas para a educação pública e agrava a crise da indústria nacional com aprofundamento do desemprego. 

Por Railídia Carvalho    

Em defesa do pré-sal da petrobras e do Brasil - Nando Neves

Em trâmite na Câmara dos Deputados, o PL, se aprovado, pode ser o tiro de misercórdia na indústria nacional.

Divanilton lembrou que a indústria brasileira, afetada pela crise econômica e política, e que já teve 30% de participação no Produtor Interno Bruto (PIB), registra hoje 9%.

A cadeia produtiva do setor de petróleo e gás é responsável por 20% do PIB e por 15% dos empregos gerados no Brasil. 

Essa mesma indústria que pode alavancar a retomada do desenvolvimento é criminalizada pela operação Lava Jato, que paralisou a produção daquele setor gerando desemprego em massa.

Divanilton informou que a queda de 3,8% do PIB no ano passado tem a Lava Jato como responsável por 2,5% daquele percentual.

“Para se ter uma ideia da magnitude da importância da cadeia produtiva de petróleo e gás, esse percentual de 2,5% significa centenas de milhares de desempregados”, ressaltou. 
No final de 2015, trabalhadores e empresários lançaram o manifesto “Compromisso pelo Desenvolvimento” em que sugeriam diretrizes para a retomada do crescimento e a superação da crise.

Entre as proposições estava o acordo de leniência, aceito pela presidenta Dilma Rouseff, e que tem por objetivo punir individualmente o responsável pelo desvio e preservar a empresa. 

 
Estímulo à indústria nacional
“Dizem que a política de conteúdo local tem prejudicado o Brasil mas essa política dá um estimulo à economia e às empresas nacionais em detrimento de comprar tudo lá fora, pronto e acabado e chegar aqui só para operar”, disse Divanilton.
Dados do SINAVAL (Sindicato da Construção Naval) apontam que, apesar da existência de inúmeras operadoras privadas e estrangeiras no Brasil, apenas a Petrobras tem encomendas de navios e plataformas aos estaleiros brasileiros.
Em recente entrevista ao Vermelho o diretor-tecnico do Dieese, Clemente Ganz Lucio, argumentou a favor da política de conteúdo local, inaugurada no governo Dilma, e que faz da Petrobras a indutora da produção nacional, estimulando a produção no Brasil ao invés de comprar insumos do exterior. 
“Perdemos os empregos qualificados ao comprar a sonda lá fora. Fica mais caro para o Brasil porque esse emprego, se tivesse sido gerado aqui, garantiria um tipo de salário e qualidade do posto de trabalho que são indutores do desenvolvimento. Quando compramos a sonda produzida lá fora, perdemos parte da nossa capacidade de promover nosso desenvolvimento.”
Retrocesso na engenharia nacional
A engenharia nacional tem sido uma das áreas mais penalizadas com a paralisação dos setores de petróleo e gás e indústria naval, em consequência das crises política e econômica, potencializadas pela operação Lava Jato.
 
Para Divanilton a engenharia corre o risco de retroceder nas recentes conquistas. “Nos anos 90, os engenheiros saíam da universidade e viravam bancários. No último período de Lula e Dilma, voltamos a ter a engenharia entre as preferências dos estudantes para entrar nas universidades. A engenharia está voltando ao patamar dos anos 90”, opinou.
Investimentos nas mãos das multinacionais
Divanilton destacou ainda a importância de se preservar os investimentos realizados para o fortalecimento do Petrobras, que serão transferidos para a iniciativa privada em caso de aprovação do PL 4567/16. 
 
“A Petrobras realizou investimentos na história e constituiu um ativo x e agora você está transferindo para a iniciativa privada e, que, pelo porte, são multinacionais”, denunciou.
Os números revelam a importância estratégica do pré-sal. “Fica muito claro o objetivo dos golpistas. A Petrobras levou 50 anos para produzir um milhão de barris. O pré-sal, em menos de 10 anos, já fez isso”, acrescentou.
Mobilização
Na opinião dele, é preciso desenvolver instrumentos que ampliem a participação do trabalhador e aumentem o grau de consciência em relação à importância de uma empresa forte e vocacionada para as políticas públicas.
“É preciso que nos aproximemos mais do ambiente de trabalho e do convívio com o trabalhador para disputar a consciência dele. É aí que precisam estar as organizações sindicais”, finalizou.