Dilma: No passado chamaram de revolução, hoje tentam dar cor ao golpe

Nesta quinta-feira (31), artistas, intelectuais e cientistas se encontraram com a presidenta Dilma Rousseff para defender a democracia e rechaçar os intentos golpistas. Nomes como Letícia Sabatella, Beth Carvalho, Antonio Pitanga, Elisa Lucinda, Emir Sader, Tássia Camargo, Flávio Renegado, Anna Muylaert, Aderbal Freire Filho, Osmar Prado compareceram ao evento. Miguel Nicolelis, Maria da Conceição Tavares e Tico Santa Cruz, entre outros, enviaram mensagens em vídeo.

Dilma com artistas intelectuais e cientistas - Agência Brasil

Em seu discurso, Dilma fez a defesa de seu mandato e do governo, e voltou a afirmar que o processo em curso na Câmara não é de impeachment, mas de um golpe, “pois o que chamam de pedaladas fiscais foram na verdade medidas para fazer pagamentos do Bolsa Família, do Minha Casa Minha Vida e a redução das taxas de juros para o setor industrial gerar emprego”.

Ela salientou ainda que todos governos anteriores teriam que ter sofrido impeachment “porque todos, sem exceção, praticaram as mesmas coisas que eu pratiquei, e todos com respaldo legal”.

“Rompemos com a lógica de fazer o bolo crescer para depois repartir. O fim da miséria é só um começo”, disse Dilma, ressaltando que o golpe tem vários nomes. “Em 64 foi a forma militar. Agora está havendo a ocultação do golpe com processos aparentemente democráticos. Se no passado chamaram de revolução, hoje tentam dar um colorido democrático a um golpe porque não tem base legal para ser feito.”

Dilma voltou a rebater a campanha da grande mídia e disse que ”qualquer jurista responsável responderá à pergunta ‘o impeachment está previsto na Constituição’ com um sonoro sim. Mas qualquer jurista bem-intencionado responderá ‘é possível um impeachment sem base em crime de responsabilidade?’, a resposta será um não”.

“O afastamento da Presidência da República sem base legal é golpe. O nome golpe dói demais em alguns, mas é golpe”, asseverou.

Máscara ao golpe

A presidenta frisou que essa máscara que tentam colocar no golpe também ficou evidente nos pedidos de renúncia insuflados após o grampo do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato.

“Primeiro: sabem que esse processo é constrangedor. Na democracia, todo mundo pode ver isso. Segundo: não sei se continuam achando que as mulheres são frágeis. Somos sensíveis, mas não somos frágeis”, acrescentou.

Ela também reforçou a necessidade do diálogo e tolerância para garantir a estabilidade política, pondo fim ao ódio, “para que esse país não sofra as consequências de uma ruptura”.

Caso da médica em Porto Alegre

A presidenta lembrou o caso da recusa de uma médica em Porto Alegre a atender o filho de um casal militante do PT. “Temos preconceitos, temos que lutar contra eles. Sabemos que tem hora que surge um fundamentalismo muito grave. Agora, estigmatizar as pessoas pelo que pensam? Um dia, me disseram: isso parece com nazismo. Primeiro, você bota uma estrela e diz que é judeu; depois coloca no campo de concentração”, comparou.

“Não se une o país destilando ódio, rancor, raiva e perseguição. Não se pode fazer isso. Aqui, nos une a democracia. Cada um de nós tem respeito pela democracia. Quer uma democracia recheada de conteúdo, mas respeitada em sua forma. Uma coisa não existe sem a outra. Não se negocia aspectos da democracia. Sabemos que ela é fundamental para preservar e defender este país”, completou.

Dilma: No passado chamaram de revolução, hoje tentam dar um colorido democrático ao golpe

“Esta unidade que nós construímos em torno do ‘não vai ter golpe’ vai ser uma das pedras fundamentais do crescimento de uma sociedade melhor”, frisou.

Dilma agradeceu o apoio das diversas personalidades, de distintas filiações, entre os quais alguns que inclusive têm posições contrárias ao governo. Ela enfatizou que a manifestação acontece numa data simbólica para o país, fazendo menção ao golpe militar de 31 de março de 1964.

“É justamente essa participação de todos nós no processo democrático por meio do voto que nos une aqui hoje. Isso nos une a despeito de nossa diversidade, diferenças de posições políticas. É algo muito forte, uma ligação muito forte. Porque significa que nós acreditamos na democracia. Nós todos aqui não só acreditamos, mas lutamos por ela. Há 52 anos, neste exato dia – eu estava tentando me lembrar onde eu estava – um golpe militar deu início a uma fase de nossa história marcada pelo desrespeito aos direitos individuais”, afirmou.

E completa: “Durante um período significativo, nós nos dedicamos a uma luta que marcou um período longo de nossa história recente. Nós sofremos as consequências desta luta. Muitos dos que se insurgiram foram presos, torturados, obrigados a deixar nosso país. Outros inclusive foram mortos. Eu vivi este momento com outras pessoas e acredito que nesses processos todos nós aprendemos – pelo menos o pessoal da minha geração – o valor da democracia. Nós aprendemos o valor da democracia da pior forma possível, de dentro de um presídio, vendo as pessoas sofrerem, vendo as pessoas tentarem resistir à imensa força da tortura, que tenta fazer a pessoa trair aquilo em que a pessoa acredita. Não é simplesmente a dor. É o que ela tenta fazer, quebrando a integridade humana dos encarcerados”.