Em seu primeiro discurso, Ramaphosa promete nova era na África do Sul

O novo Presidente quer deixar para trás o passado recente marcado pela corrupção do seu antecessor e pela falta de oportunidades econômicas para a população


Cyril Ramaphosa

O recém-empossado Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, fez na sexta-feira (16) um discurso sobre o estado da nação, em que prometeu a criação de empregos e prestou homenagem à herança de Nelson Mandela. Ramaphosa disse ainda que o país está entrando em uma “nova era” que deixará para trás a corrupção.

“Iremos construir uma nova nação e confrontar as injustiças do passado e as desigualdades do presente”, declarou Ramaphosa, no discurso na Cidade do Cabo.

O novo Presidente prometeu continuar a “longa caminhada” iniciada por Nelson Mandela com o objetivo de alcançar uma “sociedade democrática, justa e igualitária”. “Estamos continuando a longa caminhada que ele iniciou, para construir uma sociedade em que todos somos livres, em que todos somos iguais perante a lei e na qual todos podem partilhar as riquezas da nossa terra”, afirmou Ramaphosa, durante o discurso.

A expectativa para o primeiro discurso oficial de Ramaphosa enquanto Presidente era elevada. O discurso do estado da nação tinha sido adiado no início do mês, enquanto o ANC definia o destino do seu antecessor, Jacob Zuma. O partido que liderou a luta contra o apartheid e o racismo, tornando-se o principal partido político do páis, atravessava uma crise de legitimidade devido ao envolvimento de Zuma em vários casos de corrupção. O objetivo agora é recolocar a gestão do partido nos trilhos, combater a corrupção e voltar a colocar os interesses e as necessidades do povo sul-africano em primeiro lugar, até as eleções de 2019. 

O Partido Comunista Sul-africano já divulgou em nota o seu apoio a Ramaphosa, lembrando que a entrega do estado ao corporativismo e à corrupção por parte de Zuma causou grandes males ao país, e reforçando os deveres do novo presidente com o povo: "o impulso da auto-correção dentro do ANC e do estado deve continuar a ser sustentado e acelerado. Nunca mais devemos permitir que um indivíduo, quaisquer que sejam as suas credenciais de luta, esteja acima da disciplina organizacional, da liderança coletiva e do direito democrático da lei".

Espera-se também que Ramaphosa promova a recuperação de uma economia que atravessa um momento particularmente difícil. O desemprego é elevado e o investimento quase inexistente, pelo que analistas e investidores externos aguardavam por sinais de que os próximos tempos serão diferentes.

"Ramaphosa terá de encontrar um ponto de equilíbrio complexo. Ao mesmo tempo que tem de sinalizar uma mudança nas políticas econômicas para atrair investimento, tem também de ser cuidadoso e não pôr em causa medidas encaradas como vitórias para as classes mais baixas – que compõem a base de apoio do ANC" escreve o jornalista português João Ruela Ribeiro. Um dos desafios, segundo ele, será o da implementação da abolição das propinas no ensino superior público, uma medida apresentada ainda por Zuma no final do ano passado.