O caderno cearense do Portal Vermelho vem, nos últimos três meses, publicando os capítulos do livro Cordel Umbilical, que traz 20 anos de cartas trocadas entre mãe e filhos. Ao longo de quase 100 dias, pudemos acompanhar o bem querer pelas cidades de Acaraú e Cedro, mas principalmente o amor de uma família pela literatura. As correspondências eram de Dona Idalzira Bezerra e os filhos Joan Edesson, Zerivan Oliveira e a neta Geórgia.
André, meu querido André
Você é um bom cavalheiro
Na Bíblia foi um apóstolo
É hoje um prisioneiro
9 meses na prisão
Sem ar, sem respiração
Mas da mãe é companheiro
De rimar estou cansada
Vou fazer ponto final
Hoje estou num baixo astral
Revendo a vida passada
De meus filhos separada
Sei que assim não me acostumo
Quero aceitar não me aprumo
Repito o mesmo estribilho
Tive e criei cinco filhos
E cada um pegou seu rumo
A velhice é coisa triste
Ser velho ninguém deseja
Tudo mundo quer ser novo
Mas à morte não se almeja
Se velho não quer ficar
Mas chegando na hora H
Vai qualquer um como esteja
Registrando o acontecido
Que nos deixou descontente
Foi um grande acidente
Que nos deixou constrangidos
Foi só um dedo perdido
A arma dum trabalhador
Que é de grande valor
Até parece um enredo
O rapaz perdeu o dedo
E o povo é quem sente a dor
Cedro, tu nasceste um dia
De um pé de arvoredo
Aonde os pássaros bem cedo
Cantavam com alegria
A tua sombra fazia
Abrigo para o viajante
Numa viagem distante
Quando já vinham cansados
Comiam ali um bocado
E depois seguiam adiante
71 anos de idade
Tem de emancipação
Houve comemoração
Que abalou a cidade
Era festa de verdade
A banda sempre tocando
O povo todo dançando
Mas quando o governador
Abriu a boca e falou
Tudo foi silenciando
A 23 do mês de julho
No dia da vaquejada
Lá no sítio Santo Antônio
Houve uma festa animada
Mas logo que começou
Tudo de súbito mudou
Com a notícia da virada
Leitores vocês recordam
Que Cedro já foi pra frente
Berço de filhos ilustres
Jovens fortes e inteligentes
Mas hoje tudo mudou
Cedro não se acabou
Porém está diferente
Vocês conhecem Adriano
Filho de Luiz Pastor
É um rapaz excelente
Honesto e trabalhador
Casa no fim da semana
A mãe dele é Dona Ana
Corta-jaca de doutor
Esta noite eu não dormi
Com a passarada cantando
Não sei se era verdade
Ou se eu estava sonhando
Que apagava o farol
Já ia nascendo o sol
O dia vinha chegando
Cedro tu nasceste um dia
Pra engrandecer este torrão
Planos do Senhor João Cândido
Que traçou com perfeição
Dentro de sua fazenda
Fez uma povoação