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Sergio Vaz: As mil e uma noites numa noite só

*

P/ Ali Sati e Ibraim A.


 



Como nos contos da clássica e magnífica obra da literatura Árabe “As
Mil e uma noites” ontem no sarau da Cooperifa nós também vivemos a
nossa mil e uma noites, só que, como somos brasileiros da periferia,
vivemos tudo numa noite só.


 


E assim como nos contos do oriente, a nossa noite foi um oásis no
deserto. E a Poesia seguiu nos mesmos moldes dos contos, só que com
histórias poéticas em cadeia, em que cada poema que termina, deixa uma
rima que liga ao seguinte.


 


É como se todos nós -os mais de quinhentos presentes-, dessem as mãos,
uma abraçando a mão de quem vai à frente, e a outra segurando na de
quem vem atrás. Assim, ninguém se perde, e a gente segue juntos
enfrentando as tempestades de areia.


 


Nesta noite mística em que o universo abençoou nossas vidas com
algumas horas de intensa felicidade, a poesia, a amizade, a palavra e
a luta por dias melhores, fizeram com que nos sentíssemos como as
Pirâmides do Egito, sólida e enigmática, e como a gente também está
resistindo ao tempo (sete anos de sarau) e as intempéries da natureza
humana predatória, acho que também podemos nos sentir como uma das
maravilhas do mundo. Pelo menos do nosso mundo. Pelo menos da nossa
maravilha.


 


Há um velho provérbio árabe que diz: “O tempo ri para todas as coisas,
mas as pirâmides riem do tempo”.


 


Para nós que enfrentamos dia-a-dia o sarcasmo do destino, e o tempo,
com suas rugas precoces, que sempre zombou da nossa cara, sabemos o
que significa essa noite, em que parece que os deuses, todos eles,
passaram methiolate na ferida de nossas almas.


 


Uma noite dessas, em que ninguém é escravo nem faraó, para nós é para sempre.
É um riso que se instala no canto nos nossos lábios que nem mesmo o
vento é capaz de carregar.


 


A Poesia fez que todos nós ríssemos juntos, todos nós, de todos os
lugares, de todas as cores, de todas as crenças, de todas as dores,
como devia ser todos os dias e em todos os lugares.


 


A Paz não é uma palavra, é um sentimento que tem que ser praticado. E
é por isso que estamos em guerra.


 


Enquanto os poetas recitavam palavras de areia nos ouvidos atentos,
outrora embalsamados, pude ver o rio Nilo desabando nos olhos das
pessoas, refrescando as dores do peito que brotam nas dunas de nossas
faces. Uma lágrima sobre o sorriso, desse povo tão desidratado de
chorar, não há ouro nem prata que pague. Um tesouro que nem Ali Babá
pode roubar.


 


Falando nisso: Abre-te Sésamo, a alegria quer entrar!


 



*veja as fotos do último sarau da Cooperifa no blog:
www.colecionadordepedras.blogspot.com