Nagisa Oshima pergunta: como filmar, como morrer, como viver?

Em O Homem que Deixou Seu Testamento no Filme, estão presentes alguns jovens que, além de políticos, utilizam câmeras como arma política

Olhando o site Making Off, vi o filme O Homem que Deixou Seu Testamento no Filme, do cineasta japonês Nagisa Oshima. É um longa de curta duração (1h40), mas mexe com emoções que envolvem a totalidade da vida – principalmente de quem está envolvido em cinema e também em política.

O filme se chama também Ele Morreu Após a Guerra e sua estória se passa nos anos 1970, quando houve uma guerra política no Japão, uma batalha envolvendo grupos políticos de extrema. Interessante é que tudo acontece naqueles anos com ligações também ocidentais, mas tem uma atualidade extraordinária, particularmente para quem faz cinema hoje, e assim eu o indico ao cineasta Helder Lopes. Se ele ainda não o viu, que o veja logo.

Tudo se passa no tempo do maoísmo e também dos muitos grupos, tanto de esquerda quanto de direita, que se envolviam em luta naqueles anos em que no Brasil, infelizmente, se vivia a ditadura militar. E no Japão as coisas também não eram boas, inclusive ainda com a presença forte do governo norte-americano e sua dominação.

Na estória do filme de Oshima estão presentes alguns jovens que, além de políticos, utilizam câmeras como arma política. A cena inicial do filme é um jovem segurando uma câmera, filmando doidamente na corrida, e outro jovem correndo atrás dele vem para lhe tomar a câmera. O jovem corre e grita para o outro que quer a câmera – e a coisa vai até o jovem cinegrafista se jogar com câmera e tudo de prédio abaixo. Suicídio ou não? O fim dá a entender que sim, mas mais adiante que não.

É em torno dessa sequência inicial que o filme se desenvolve. E o jovem dono da câmera tem uma discussão com uma jovem, que seria sua namorada, sobre a propriedade (marxianamente falando), e também existe todo um jogo de sedução nas sequências com a jovem se ligando ainda a um outro jovem, que também seria seu namorado.

Se analisarmos a forma de pensar dos jovens que participam do filme de Nagisa, vamos chegar à conclusão de que na verdade não são tão diferentes do que parecem pensar os jovens de hoje. Eles próprios inclusive comentam sobre política e a importância de fazer política – e também fazer cinema – com as mesmas dúvidas que surgem nos jovens de hoje. E do que pensa um cineasta famoso como Nagisa Oshima e outros.

O cineasta japonês Nagisa Oshima (1932—2013)

Me parece, segundo um depoimento de Nagisa, que ele próprio não sabe com segurança para que está fazendo cinema. Assim, pondo os jovens como protagonistas, deixa que para esses jovens surja a questão. Por isso mesmo, ele solta as rédeas do filme e deixa que os intérpretes sigam os caminhos que vão se abrindo. Nagisa diz mesmo que seu trabalho artístico lhe é entregue por “fantasmas” em pensamento, mostrando uma forma de criar que nos parece semelhante à que dizia ser a sua, o poeta Ferreira Gullar.

Tôkiô sensô sengo hiwa pode ser importante para professores de cinema como o Luiz Joaquim, principalmente nessa fase de quarentena com aulas pelo vídeo.

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