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Morre Roberto Fernández Retamar, o poeta da Revolução Cubana 

O poeta, escritor e ensaísta cubano Roberto Fernández Retamar, lendário presidente da Casa das Américas, morreu neste sábado (22) em Havana, aos 89 anos. A informação foi dada pela instituição cultural cubana, que Retamar presidia desde 1986. “A casa da intelectualidade latino-americana está de luto”, afirmou o órgão. “Querido Roberto, muito obrigado por nos deixar a obra, lucidez e compromisso”, escreveu o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, numa rede social.

Roberto Fernández Retamar

Membro do Partido Comunista de Cuba e apoiador dos mais fiéis da Revolução Cubana, Retamar foi autor de uma vasta obra em prosa e verso, que lhe valeu o Prêmio Nacional de Literatura de 1989, por Juana y Otros Poemas Personales. Entre os temas de seus versos, frequentemente prosaicos, estão o humor, a amizade, o amor e o cotidiano.

Seu ensaio Caliban – Notas sobre a Cultura da Nossa América (1971) é considerado um dos mais importantes da literatura latino-americana do século 20. Na obra – que se tornou obrigatória em muitas universidades do continente –, Retamar reivindica uma identidade própria para a cultura caribenha e latino-americana numa perspectiva pós-colonial.

“Perdemos um dos maiores poetas e pensadores da Nossa América e do mundo: Roberto Fernández Retamar. Deixa-nos um trabalho excepcional, focado na descolonização e anti-imperialismo”, escreveu, no Twitter, o ex-ministro da Cultura de Cuba, Abel Prieto

Nascido em Havana, em 9 de junho de 1930, Fernández Retamar começou a trabalhar muito cedo como jornalista na revista Alba, para a qual entrevistou nomes como o escritor norte-americano Ernest Hemingway. Na década de 1950, colaborava com a revista Origens, enquanto se envolvia na luta clandestina contra o regime do ditador Fulgêncio Batista.

Após o triunfo da Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro em 1959, Retamar ocupou vários cargos em instituições culturais, revelando-se um exímio agitador. Começou a dirigir a revista da Casa das Américas em 1965, para chegar à presidência do órgão em 1986. Até à sua morte, manteve-se no cargo, que exerceu durante 33 anos.


Retamar participa da Assembleia Nacional, em 2003, ao lado de Vilma Espin e dos irmãos Fidel e Raúl Castro
 

Em 1954, formou-se doutor em Filosofia e Letras na Universidade de Havana – da qual se tornaria professor emérito. Recebeu o título de doutor honoris causa das universidades de Sofía (1989), Buenos Aires (1993) e Central de Las Villas (2011). Membro da Academia Cubana da Língua (que dirigiu de 2008 a 2012) e da Real Academia Espanhola, o escritor também integrava o Conselho Cubano de Estado, órgão máximo do governo, tendo sido deputado na Assembleia Nacional entre 1998 e 2013.

Antes de receber o Prêmio Nacional de Literatura – o mais importante do gênero em Cuba –, já tinha ganhado em 1951, pelo livro Pátrias, o Prêmio Nacional de Poesia. Foi também agraciado com o Prêmio Nacional de Ciências Sociais em 2012. Traduzido e publicado em diversos idiomas, Retamar teve, ainda, uma trajetória importante como editor.