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Milton Nascimento e Chico Buarque: Primeiro de Maio 

Em 1977, sob o governo do general-presidente Ernesto Geisel, a ditadura militar (1964-1985) ainda tateava a abertura “lenta, gradual e segura”. Com a censura abrandada, Chico Buarque e Milton Nascimento ousaram lançar o compacto simples Cio da Terra para comemorar o Dia Internacional do Trabalhador. Do lado principal do disco, a música-título, uma obra-prima: O Cio da Terra. Do outro lado, uma canção menos conhecida, mas igualmente inspirada: Primeiro de Maio.

Por André Cintra

Milton e Chico

Essa segunda música fala das expectativas de um par de namorados – um artesão e uma tecelã – que querem aproveitar o feriado de 1º de Maio, a “cidade parada”, e “consagrar / O dia inteiro pra se amar tanto”. Não há patrão ali, entre eles, para explorá-los ou se apropriar do produto que eles fabricam. O artesão, enfim, poderá ser “senhor das suas mãos / E das ferramentas”. Já a tecelã terá “o fruto do suor / Do trabalho que é só seu”.

“A canção foi cantada pela primeira vez por Chico e Milton no Teatro Carlos Gomes, em comemoração ao Dia do Trabalho”, conta Wagner Homem em História de Canções: Chico Buarque. Conforme lembra o autor, o disco com O Cio da Terra e Primeiro de Maio foi lançado num “momento em que o movimento sindical na região do ABCD paulista começava a se reorganizar sob a direção de um jovem metalúrgico chamado Luiz Inácio da Silva, o Lula”.

Ouça abaixo Primeiro de Maio:

 
Primeiro de Maio
(Milton Nascimento e Chico Buarque)

Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é o seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhas do seu ventre
O homem de amanhã