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Lia Sophia e a música do Brasil com sotaque do Norte

As duas décadas de carreira da cantora e compositora Lia Sophia deram a ela a independência na condução da própria carreira. Nascida em Caiena, na Guiana Francesa, Lia foi criada na região Norte do Brasil. Viveu em Macapá (AP) e depois em Belém (PA), onde decidiu que a música seria seu ofício de vida. Mora em São Paulo há dois anos e inicia 2017 preparando o quinto cd de carreira, um álbum especial de carimbó, além do projeto de um DVD.

Por Railídia Carvalho

Cantora Lia Sophia - Taísa Fernandes

O Portal Vermelho conversou na manhã desta sexta-feira com a cantora, que se apresenta neste sábado, às 20h, no Sesc Campo Limpo, na zona sul da cidade de São Paulo. 

O show tem entrada franca e é resultado de um convite feito pelo Sesc em que Lia canta clássicos da música paraense. Canções amazônicas, carimbó e brega de autores daquele estado como Paulo André e Waldemar Henrique.

Na conversa Lia contou que a recente vinda para São Paulo foi motivada pelas facilidades oferecidas pela capital paulista. A agilidade com que Belém tem revelado uma nova geração de músicos ainda não se traduz em estrutura para que essa produção extrapole as fronteiras do Pará. 

Vitrine paulista
 

“Infelizmente as distâncias fazem diferença na divulgação do trabalho, de onde você sai, como você roda o Brasil. Estar aqui te possibilita circular mais com o trabalho. Facilita, barateia e tem muitas possibilidades de divulgação de shows”, contou Lia.

Apaixonada por Belém, Lia admite que a vinda dela para São Paulo foi tardia considerando que em 2012 ela ganhou visibilidade no Brasil com a música “Ai, menina”, tema de novela da rede Globo que foi ambientada no estado. O deseja da artista é ver Belém, que completou nesta quinta-feira (12) 401 anos, se tornar um pólo nacional de produção assim como o carimbó ser transformado em um ritmo nacional, como o forró.

Símbolo da cultura paraense, o carimbó é um ritmo emblemático na carreira de Lia. Ela que sempre admirou os mestres da tradição deste batuque paraense, como Pinduca e Verequete, viu a composição Ai, Menina, o primeiro carimbó composto por ela, se transformar em um sucesso nacional.

“Até hoje acho que essa música não tá pronta porque parece faltar uma parte. Era uma experimentação. De alguma maneira para os artistas jovens, compor um carimbó era meio intimidador, como é que você vai compor, qual a tua linguagem diante desses caras que são geniais?”.

Ai, Menina foi divulgada em formato de EP, uma espécie de cd com menor número de músicas. Lançado nas plataformas digitais no início de 2011, o trabalho tinha ainda as músicas Salto Mortal e Amor de Promoção.

Raízes

“A música (Ai, Menina) foi um divisor de águas. Não chamou atenção só pra mim mas também para a música do Pará. Fico felicíssima de homenagear essa cultura. Muitos carimbós vieram depois daquele. No cd de carimbó vou cantar composições de artistas jovens como Iva Rothe e Félix Robato. É trazer um jeito de tocar o carimbó com mistura eletrônica, fazendo com que os nossos discos se comuniquem com o mundo”, explicou a cantora.

Carimbó, marabaixo (batuque do Amapá), zouk (música dos crioulos de Caiena) são alguns dos ritmos que compõem a sonoridade da trajetória de Lia Sophia. Nascida em Caiena, a artista, que é filha de paraenses, vivenciou a música tradicional dessas localidades. Viaja para esses lugares até hoje.

“O meu trabalho segue um caminho de ir para as raízes. Tem os tambores amazônicos, o carimbó, está meio nesse caminhho. Muita gente diz que eu sou uma cantora de música regional. Eu não visto este título de ser cantora de música regional. Não visto porque quero muito que o carimbó seja reconhecido no Brasil como é o forró. Que seja uma música nacional que você escuta em qualquer lugar do Brasil. É um dos meus sonhos. Eu sou uma sonhadora”, definiu Lia.

Da criação à produção

Multi-instrumentista, Lia está produzindo as bases do quinto cd. Até 2013 ela gravou os cds Lia Sophia (2013), Amor, Amor (2010), Castelo de Luz (2009) e Livre (2005). Toca violão, banjo, guitarra, “arranha” teclado, nas palavras dela. No pequeno estúdio que mantém, ela toca, canta, arranja. Lia gosta que o trabalho fique com a identidade dela. “Às vezes, mesmo mandando as referências fica com o espírito do produtor e não com o seu espírito”, observou.

Nessas duas décadas Lia arregaçou literalmente as mangas. Mesmo vindo de uma família musical (a mãe foi cantora do rádio e o pai e os irmãos tocam instrumentos mesmo tendo outras profissões), encontrou resistência quando resolveu viver de música e trocar a carreira de psicóloga pela de cantora. Batalha desde os 17 anos e investe na carreira buscando espaços para compartilhar a sua produção musical.

“A sorte é aliada do trabalho. Há muitos anos eu faço meu trabalho com muita garra e muita insistência. Nesses 20 anos que eu não tinha nem internet lembro de gastar dois, três mil reais com postagem de correio para jornalistas. Plantei isso, trabalhei para que o meu nome estivesse ali para que as pessoas ouvissem. Canto as coisas que eu acredito, a minha aldeia, o que me diferencia dos outros. Quero que a minha música conte a minha história”, enfatizou.

No show do Sesc, além de um repertório conhecido que mostra diversas expressões da música paraense, o público poderá ouvir a composição que entrará no novo cd de Lia: Quero ver se segurar. Também nome do show, a música adianta que a plateia paulista vai experimentar altas temperaturas da música tropical.

SERVIÇO

Show Quero Ver se Segurar com Lia Sophia
Dia: 14 de janeiro
Local: Sesc Campo Limpo (R. Nossa Sra. do Bom Conselho, 120. Telefone: (11) 5510 2700)
Hora: 20h
Grátis

Assista trecho do DVD virtual de Lia Sophia em que ao lado de Pinduca e Fafá de Belém ela interpreta "Esse rio é minha rua" (Ruy Barata e Paulo André)