“King Kong en Asunción” é o melhor em Gramado

Na verdade, gostei mais da premiação desse Festival do que dele mesmo.

Concordo com Camilo Cavalcante que filme não é ‘cavalo de corrida’, e que todos têm um valor a ser descoberto pelos espectadores. Mas premiação faz parte dessa estória de festival e serve principalmente para mexer com o ego do premiado, além de mexer também com os espectadores. Sendo premiado como Melhor Filme no 48° Festival de Cinema de Gramado, “King Kong en Asunción” ganha força para entrar no mercado de exibição. Essa é  a grande importância do prêmio.

Na verdade, gostei mais da premiação desse Festival do que dele mesmo. Fiz e faço restrições à curadoria de Gramado, mas se estivesse no júri dessa edição, provavelmente teria votado na maior parte dos premiados, a começar pelo filme de Camilo Cavalcante. Além de Melhor Filme, ele ganhou o prêmio de Melhor Ator, que foi para Andrade Júnior. É claro que esse prêmio se estrutura também nas circunstâncias em que a interpretação aconteceu e pela morte do ator, mesmo que a parte intrínseca à interpretação seja excelente.  Mesmo comparando com a interpretação de Agildo Ribeiro como matador no filme “Tocaia no Asfalto” de Roberto Pires.

“King Kong en Asunción” ganhou ainda o prêmio de Melhor Trilha Musical, que foi criada pelo argentino Shaman Herrera. Confesso que não fiquei impactado pela música do filme, a não ser no final com a canção interpretada por Mercedes Sosa.

Não podemos esquecer que “King Kong en Asunción” ganhou o prêmio do público que assistiu ao filme pelo Canal Brasil.

“Todos os mortos”, filme paulista dirigido por Caetano Gotardo e Marco Dutra, foi premiado pela Atriz Coadjuvante, que foi a cantora Alaíde Costa, e Ator Coadjuvante, Thomás Aquino. Concordo com esses prêmios, embora não tenha gostado da estrutura requintada do filme. Mas o prêmio para a Trilha Musical criada por Salloma Salomão seria impossível não ser dado, porque o trabalho e a criação são impressionantes. Acho mesmo que não seria injusto se fosse só para ele e não dividindo com a trilha de  “King Kong…”.

O cineasta do Cinema Novo Ruy Guerra, que continua a realizar filmes, foi bem premiado pelo seu “Aos pedaços”, e recebeu Melhor Diretor com justiça, e seu fotógrafo Pablo Baião o de Melhor Fotografia. Ainda teve o prêmio de Desenho de Som para Bernardo Uzeda. São prêmios que significam reconhecer o bom trabalho cinematográfico e também o que disseram os técnicos que trabalharam com Ruy, quanto a ele ser um diretor superexigente. Nos seus 89 anos de idade.

A produção do Rio de Janeiro com ligações com Portugal e Moçambique, “Um animal amarelo”, recebeu dois prêmios justos, que foram Melhor Roteiro (um roteiro que se desenvolve em várias dimensões dramáticas …) do também diretor Felipe Bragança, e de Melhor Atriz para a figura negra Isabél Zuaa.

O excelente prêmio do Canal Brasil (25 mil reais e exibição no canal) foi para o pernambucano de curta-metragem “Inabitável”, que tem direção de Matheus Farias e Enock Carvalho. O prêmio foi para Luciana Souza. Ela recebeu ainda o prêmio de Melhor Atriz e os diretores receberam o prêmio de Melhor Roteiro entre os curtas.

O amazonense “O barco e o rio”, dirigido por Bernardo Ale Abinader, recebeu entre os curtas o prêmio de Melhor Filme, e ainda o de Fotografia para Valentina Ricardo, e Direção de Arte que foi feita por Francisco Ricardo Lima Caetano. Eles disseram que planejam um longa a partir do curta. E tudo indica que vão conseguir.

Para o curta “Você tem olhos tristes” de São Paulo foram os prêmios de Melhor Ator (Daniel Veiga) e Melhor Montagem (Júlia Travia).

Para o curta “Atordoado, eu permaneço atento” do Rio foi o prêmio de Trilha Musical. E para o “Receita de Caranguejo” o de Desenho de Som.

Estrangeiros

Realmente, o Festival de Cinema de Gramado é o espaço que dá atenção ao cinema latino-americano. E na premiação deste ano tivemos cinco filmes, onde o destaque é mesmo esse produto colombiano “La frontera”, que recebeu o prêmio de Melhor Filme. A direção é do cineasta David David. É a produção com mais senso cinematográfico das apresentadas. E recebeu o prêmio de Melhor Atriz (Daylin Vega Moreno) e de Atriz coadjuvante (Sheila Monterola).

“El gran viaje al país pequeno”, que é meio burocrático, mas com uma temática importante, recebeu o prêmio de Melhor Direção para Mariana Viñoles. O quase cômico “Matar a un muerto” ganhou Melhor Ator (Anibal Ortiz). E “El silencio del cazador”, que me pareceu o mais fraco talvez, recebeu o prêmio de Fotografia (Nicolas Trovato).

Olinda                        27. 9. 2020

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