Durma com este barulho

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Ilustração: Tainan Rocha

Você consegue ouvir esse som? 

São as cadeiras dos bares, lanchonetes e restaurantes, dos pontos de ônibus, dos estádios, dos terreiros e de algumas igrejas, das faculdades e escolas, e até mesmo das firmas… 

Rangendo de saudade da gente.

Penso em como é que vão os microondas vazios sem as nossas marmitas. As pias secas e os talheres intactos, limpos.

Muitos de nós também estão sentidos por não poder sentar com os colegas, chegados e afins. Seja para jogar conversa fora enquanto gela-se a goela ou exalta-se para além das tantas por conta de política.

Muitos de nós. Mas nem todos.

Porque mesmo muitos, não significam todos.

Porque muitos mais sentem falta daquilo que não viveram. E nesse momento se faz irremediável não rememorar um pseudo gênio da bola, que certa vez virou meme quando cravou essa: 

“…Saudade daquilo que não vivemos.”

Esse jovem ícone popular já errou muito. Dentro, e principalmente, fora das quatro linhas delimitadas nos gramados.

Mas nessa… Poxa, seria de fato cometer um equivoco não reconhecer, mesmo que tardio, este seu gol de placa. 

No fim, descobrimos da pior forma que ele estava certo.

E que saudade dói mais que bola na trave nos acréscimos do segundo tempo.

Mesmo o futebol, que andava bem mal das pernas, agora faz falta, às almas que descasam em casa, vazias feitos os bares e estádios… Hoje, ocupados por enfermos, e também por aqueles que fazem um silêncio eterno e ensurdecedor. 

E agora? Você consegue ouvir esse som?

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