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Celso Marconi: O filme cubano Numa Escola de Havana 

Um filme que se pode dizer oficial da produção cubana é este Numa Escola de Havana, realizado pelo cineasta Ernesto Daranas em 2014, e apresentado como representante do país em 2015 para o Oscar de Melhor filme estrangeiro.

Por Celso Marconi*

Numa escola em Havana

O Mubi está exibindo o filme agora. No texto de apresentação, afirma que se trata de uma estória “das favelas de Havana”, mas isso é um “engano” absoluto do Mubi, pois o ocorrido – a estória do filme – se passa, vamos dizer, com pessoas do primeiro plano no mundo social cubano.

Na verdade, não existe essa categoria social de “favelados” na ilha caribenha. Talvez possamos dizer, com esforço, que todos seriam “favelados”, pois não há residências burguesas no país, embora pessoas individualmente possam se destacar.

O Mubi o apresenta como se fosse um filme crítico ao mundo cubano, mas não o é. É uma obra que apresenta um aspecto do mundo social dos cubanos usando uma estrutura narrativa quase como de um documentário, mas não há nenhuma crítica à forma como se estrutura socialmente essa nação caribenha. Temos um caso concreto, dentro de uma estrutura escolar, e são mostradas as divergências entre uma professora e um inspetor da área de conduta, quando o inspetor pune um aluno “rebelde”. O espectador então poderá individualmente concordar mais com uma das posições.

Esse é um filme que aborda principalmente o psicológico dos personagens, mostrando sempre erros ou acertos da pessoa como indivíduo, e não como autoridade, representante do governo. Na condição de realização cinematográfica, Numa Escola de Havana demonstra que o cinema cubano está em boa situação de técnica.

Porém, nesse caso, temos uma obra que não rompe com as formas tradicionais hollywoodianas de construção. O diretor Ernesto Daranas segue as regras do fazer cinematográfico, no sentido de criar uma produção mais acessível ao público em geral. Interessa ao diretor mais comunicar com tranquilidade a sua estória do que criar uma mais criativa e pessoal obra de arte.

É um filme de indústria mais do que um filme de arte. Mesmo assim, não deixa de ter beleza plástica. Afinal, os cubanos em geral vivem numa sociedade organizada e com normas sociais. Então isso é o que se vê em Numa Escola de Havana.

Há poucos dias, o jornal francês Le Monde publicou uma reportagem de três páginas sobre Cuba, e na sua estrutura a matéria continuava na mesma posição antiga e já mais velha. Ou seja, o Le Monde afirmava que a existência do país, recriado por Fidel Castro e seus companheiros, tem uma população que simplesmente “vive oprimida por uma ditadura”.

Mas as próprias imagens que são exibidas pelo filme conseguem mostrar ao espectador mais sensível e consciente que lá todos têm um regime social diferente do que existe na maioria das nações, mas não uma forma simplesmente opressora de governo.

Lá, os cidadãos são todos tidos como pessoas humanas, e não simples consumidores. Não há uma exibição de luxos, não há uma elite que viva esbanjando riqueza, não há carros particulares criando embaraço nas ruas, mas também não há nas ruas pessoas passando fome e morando nelas sem nenhum apoio governamental.

* Celso Marconi, 89 anos, é crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8. É Colaborador do Prosa, Poesia e Arte