Celso Marconi: Ela Volta na Quinta, outro filme de família

Filme do mineiro André Novais Oliveira segue a nossa tradição de naturalismo

Ela Volta na Quinta é um filme mineiro de 2015 que a sessão de cinema da TV Cultura desta semana exibiu. Tem a direção do cineasta André Novais Oliveira. O filme também foi exibido em festivais, como o japonês Assuntos de Família e o coreano Parasita, mas não foi premiado com a Palma de Ouro e, por isso, ficou escondido – mesmo no Brasil.

Esse é um novo filme do Brasil, mas segue a nossa tradição de naturalismo. André Novais extraiu a história da sua própria realidade familiar – e inclusive os intérpretes são os seus parentes, pais, irmãos, fora alguns outros próximos. Sua linguagem é incisiva, e a narrativa cinematográfica é de um quase documentário. Até informações que estão na internet o colocam como documentário, coisa que ele não é. Ele é naturalista, mas todas as cenas são criadas imageticamente e os personagens não são reais – cada um deles é criação da imaginação do roteirista e diretor André Novais.

O cineasta mineiro é bem entrosado com o movimento em seu estado, como o ouvi dizer em entrevista. Ele já realizou, todos os anos, vários filmes longas e curtas. Como em 2018, o Temporada, com a atriz Grace Passô. Em 2015, Quintal e Ela Volta na Quinta. Em 2013, Pouco Mais de um Mês” e, em 2010, Fantasmas. É bom observar as realizações de um cineasta de Minas Gerais para mostrar como a produção de cinema brasileiro tem se encaminhado para uma libertação do eixo Rio-São Paulo. Em anos passados, em Pernambuco, por exemplo, só tínhamos obras de cineastas do Centro-Sul que aproveitavam as nossas paisagens.

Esse Ela Volta na Quinta, apesar de ser um filme ideologicamente marcado, não se prende por isso. Conta uma estória como quase todas as criações artísticas – e mostra, no seu caso, uma realidade vivida por seus integrantes. Há uma naturalidade buscada e sente-se que os intérpretes vão simplesmente falando com sua forma comum e natural de falar.

Diferentemente do filme japonês e do coreano em suas criações, notamos que a extensão de uma tomada vai sendo mantida de acordo com o que acontece em cada ação. Se foi feito roteiro técnico, certamente foi quebrado o tempo todo. O desenvolvimento da ação conduziu a criação da linguagem sem maiores dramas.

André Novais Oliveira – não só por esse filme mas pela entrevista que vi dele – é um artista que busca com suas criações falar mais sobre a vida que vive e que acontece em torno. E isso mais do que elaborar obra de arte, embora não deixe os caminhos despencarem em demagogia.

Ela Volta na Quinta recebeu prêmios no Festival de Brasília, em um festival numa cidade francesa e em mais outros festivais. Porém, não entrou no circuito dos grandes festivais internacionais. Por isso, quase não se vê falar sobre ele. Suas exibições são assim, em pequenos circuitos – e o filme fica sendo situado como um simples produto menor. Mas bastaria que o cineasta recebesse um grande prêmio e entraria então nos grandes circuitos. Talvez, não duvido, a raça negra do diretor contribua para essa ausência.

Vou procurar assistir a outras produções do jovem realizador André Novais Oliveira.

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