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Aidenor Aires: Isaac Benchimol, um protetor do povo

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O Ministério Público foi a maior conquista da cidadania na Constituição de 1988. No fogo de sua juventude aquece-se a aspiração da democracia. Aí se recolhem o clamor da natureza agredida e sorte dos animais, florestas, ar e rios. É seio para os despossuídos, que não têm direitos por não terem acesso à educação, à saúde, ao patrimônio. Deixou de ser o procurador do rei para ser a tábua de salvação para quem não tem voz, num mundo de gritos, egoísmos e injustiças. Não quero continuar falando da instituição pela qual me apaixonei e à qual dediquei curtos e intensos dias da minha vida. Não quero aborrecer o paciente leitor com o jargão jurídico, com seus petulantes, latinismos e arcaísmos barrocos. Um leve olhar sobre o Ministério Público Goiano nos revela uma face nova construída em seus vinte anos recentes. São tantos nomes. Tantas vidas. Tantas mentes e corações que dão ao homem comum, à mulher e a crianças e adolescentes a mão ainda possível do carinho social. Haveria muitos a honrar. Caminham em minhas lembranças. Quero recordar o nome daquele que ficou conhecido como o Promotor do Povo, o Dr. Isaac Benchimol Ferreira, falecido recentemente. Nossa juventude andou próxima na antiga Vila Nova. Recordo-me de seus pais, Dona Miriam e Francisco e sua extensa irmandade. A luta de todos pelo estudo, pelo trabalho, pelas oportunidades que Goiânia acenava aos destemidos e incansáveis retirantes. Isaac passou pelo futebol, esporte que exercitou até a fronteira extrema. A política, a administração pública, a advocacia, o magistério universitário e, finalmente, o difícil encontro com o Ministério Público. Recordo-me de suas lutas para incluir-se na instituição, aonde só se chega por concurso público de provas e títulos. Como bom cearense, guerreiro teimoso acabou por conquistar seu lugar. Passou por várias promotorias, mas vestiu como uma luva a defesa do cidadão, na área de saúde. O corredor de seu gabinete estava sempre cheio de povo. Humilde e enérgico estava sempre aberto ao diálogo com a indústria da saúde, as espertezas dos hospitais e donos de UTIs. Era o apoio último dos doentes que não conseguiam uma internação, uma cirurgia, os medicamentos para suas moléstias graves. Persuasivo, obtinha pactos de ajustamento de condutas, para melhorar o atendimento aos necessitados. Quando necessário, recorria à proteção da lei para ver esses direitos garantidos. Mas o importante era sua capacidade de ouvir. Sua alegria e otimismo, mesmo depois de sofrer uma ponte de safena para salvar seu sofrido coração. Seu parentesco permanente com o povo de onde veio. Cheguei a ouvir de alguns enfermos que não podem adquirir os medicamentos para continuar vivendo, desprezados pela demagogia dos governantes, pela excludente burocracia ou pela insensibilidade de algum des/servidor público. Que com a morte do Dr. Benchimol, ficaram órfãos. Quando alguém morre faz falta à sua família, à sua cidade, aos seus amigos. A morte de Benchimol foi tudo isso, mas faz maior falta para aqueles que o buscavam depois de levarem nas caras maltratadas o coice duro de todas as portas.