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Aidenor Aires: Academia Barreirense de Letras

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No último dia 12 de março retornei a Barreiras. Barreiras foi a mais importante frente de ocupação do Oeste da Bahia seguindo o Rio São Francisco. A vila foi fundada por ato do governo estadual de 6 de abril de 1891 e foi elevada à categoria de cidade em 19 de maio de 1902. Até aquele lugar o Rio Grande era navegável, não podendo as embarcações ir além devido aos rochedos que formavam uma barreira, dando o último trecho profundo do rio origem ao porto de Barreiras. São João das Barreiras, chamado pelos goianos do norte, hoje Tocantins que, por falta de estradas para a cidade de Goiás, levavam as riquezas da região para exportarem pelo Rio Grande. Ali adquiriam produtos industrializados e as mercadorias de que necessitavam. Tudo bem contado e documentado no importante trabalho historiográfico de Ignez Pitta de Almeida publicado em 2005, Barreiras, Uma História de Sucesso. Quero dizer que nasci ali perto, no Castelo, margem do Rio Branco, águas sanfranciscanas, município de Riachão das Neves. Emigrei, retirante, aos 10 anos de idade. Desde então minha família fixou-se em Goiânia, participando de momentos ainda pioneiros da Cidade de Pedro Ludovico. Vi ruas serem asfaltadas, bairros surgindo da noite para o dia, a cidade tornando-se metrópole, posto avançado para a ocupação do Oeste brasileiro, encruzilhada no Coração do Brasil. Às vezes retornei a Barreiras e ao Riachão das Neves, onde vive a maioria de meus familiares. Onde repousam meus antepassados. Neste dia 12, uma quinta feira, voltei à sagrada terra de origem. A convite da historiadora Ignez Pitta e acolhimento dos demais membros, fui tomar posse em uma cadeira da Academia Barreirense de Letras, fundada por Dr. Luís Pamplona, Ignez Pitta e outros barreirenses ilustres. A solenidade foi no plenário da Câmara Municipal. Presentes, os membros da academia, jornalistas, autoridades e, em grande maioria, familiares meus, dos ramos Ayres e Bomfim. Confesso que foi um dos momentos mais emocionantes de minha vida. Acompanhado por minha esposa Tânia, filha da “Campininha”, fui bombardeado por expressões de admiração e carinho. Abraçado como o filho que esteve distante, mas que não perdeu a língua de seu berço, o aconchego de suas origens. Vejo hoje em meus poemas e no veio medular de meu ser, o quanto esse mundo primordial com sua memória e imaginário me acompanham e estão impregnados em tudo que faço. O acolhimento dos acadêmicos e o calor dos abraços homenageavam o poeta, o antigo menino com alforjes cheios de saudades, de viagens, de rostos e de versos. Ali estavam parentes e amigos. Em seus rostos podia ver os traços fortes e ternos de sertanejos, lavradores, barqueiros, fazendeiros e vaqueiros antepassados. Foi uma noite calorosa ao hálito do Rio Grande, sob uma lua cheia esplendorosa. Dali saí mais rico e mais distante da morte, porque o que é vivo em nós são as lembranças. Nossos gestos e palavras que deixamos no ar,  e mesmo em algum sentimento ou afeto.