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Adalberto Monteiro: Ser certo é ser torto

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No cerrado ser certo
É ser torto.
Aleijado é ser ereto.
É uma questão de gosto.
Em vez da reta, do traçado masculino,
Ele tem as curvas
Do corpo feminino.
 


O cerrado não inveja as garbosas florestas.
Por que árvores altas se em vez de girafas
Ele tem tamanduás, antas e pebas?
 


No Japão,
Para explicar o que é o cerrado,
Basta dizer na palestra:
— É uma floresta… de bonzais.
 


Para se ver longe
Não é preciso ser alto
Já se nasceu no Planalto.
 


O cerrado bebe água e fogo.
Suas raízes sugam as pedras.
O cerrado é forte nada teme,
Exceto o câncer das motos-serra.


 
O cerrado é a casa das águas,
É onde os rios escolheram para nascer.
Ele está sendo morto.
E se ele morre, as águas falecem,
E a vida perece.
 


No cume do Planalto
As estrelas são uvas
Colhidas com as mãos.
 


— Pegue um balde, suba a Chapada
E ordenhe a Via-Láctea.



As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi – edição 2005