Jandira Feghali: Nossa história

 As mulheres levantam suas vozes por eleições livres e democráticas. Vamos erguer nossos braços e cabeças por nossas pautas de superação das desigualdades. Por um projeto de Brasil que nos inclua. Por direitos e garantias fundamentais do nosso povo, principalmente das mães negras e seus filhos e filhas nas favelas do Rio em meio a uma intervenção militar.

Jandira Feghali - Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara

Costumo dizer que os impactos de rupturas democráticas, como a que vivemos com a deposição de uma mulher da presidência da República, são logo sentidos por nós, mulheres. Sofremos primeiro porque somos maioria da população e quase 40% na chefia das famílias. Numa realidade que, além das desigualdades históricas que ainda permeiam o mundo do trabalho, os espaços domésticos e o universo dos direitos essenciais nos “premia” como a maioria nos postos precarizados, com o trabalho não remunerado e não reconhecido no ambiente privado do lar, mantendo a tão conhecida dupla ou tripla jornada de trabalho. E por isso sentimos diariamente, com mais força, todos os ataques desta pauta pós-golpe de 2016.

Sempre nos tiveram como água doce e calma, mas sabemos ser trovão e tempestade quando convencidas de nossos direitos ou ameaçadas de retrocessos para nós, nossos filhos e filhas. Nossos braços e mentes não esmoreceram um segundo nesta luta de resistência que se desenvolve na nação há dois anos.

Temer vomita reformas que rasgam o pacto social firmado na Constituição Cidadã de 1988, que completa 30 anos. Segue sustentado pela violação da Carta Magna e se aproveita da restrição democrática para comprometer a soberania do Brasil e sua possibilidade de desenvolvimento, geração de emprego e renda. Aposta no individualismo, na competição e na intolerância. Estimula a criminalização da política.

Quem não sente esses efeitos quando o Brasil, segundo o ultimo PNAD, voltou aos índices de extrema pobreza de 2007 e ao mapa da fome? E o Estado do Rio de Janeiro é proporcionalmente o pior colocado neste gráfico. Indiferente a tudo e a todos o governo segue a agenda de cortes de recursos, abrindo flancos num Estado que poderia dar a seu povo novas possibilidades.

Na Saúde, o Governo caminha para trás, com grave crise assistencial e mortes por febre amarela. Clamamos por um Estado forte que garanta as políticas públicas de saúde e educação. Não aceitamos a naturalização do assédio, da violência contra as mulheres, das mortes por aborto clandestino, inclusive em caso de estupro, e a transformação das escolas em locais acríticos.

Neste 8 de março, quando comemoramos o dia internacional da mulher, nos defrontamos com uma realidade assustadora. Tribunais de exceção, assimetria de poderes, crise política, intervenção federal no Rio de Janeiro. O maior líder popular deste país condenado sem provas, escancarando a violência que a democracia poderá sofrer em 2018.

Para tanto, as mulheres levantam suas vozes por eleições livres e democráticas. Vamos erguer nossos braços e cabeças por nossas pautas de superação das desigualdades. Por um projeto de Brasil que nos inclua. Por direitos e garantias fundamentais do nosso povo, principalmente das mães negras e seus filhos e filhas nas favelas do Rio em meio a uma intervenção militar.

Nosso desejo e nossa luta é para que direitos históricos, conquistados mesmo em conjunturas difíceis, permaneçam. Que outros se somem e resgatem a enorme dívida que a herança patriarcal nos relegou. Temos capacidade de sonhar e coragem para lutar. Nunca como coadjuvantes, mas como protagonistas da história, da nossa história.