Senadoras são destaque na defesa da presidenta Dilma  

“Nessa comissão há dois tipos de senadores. Os que sabem que não houve crime de responsabilidade e vão votar contra o impeachment; e os que sabem que não houve crime de responsabilidade e mesmo assim vão votar a favor do impeachment.” Essa foi a conclusão apresentada pelo senador Humberto Costa (PT-PE) no debate do relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG) sobre o impeachment de Dilma Rousseff, nesta quarta-feira (3). Mas foram as senadoras que se destacaram na defesa da presidenta afastada. 

Senadoras são destaque na defesa da presidenta Dilma - Agência Senado

Da senadora comunista Vanessa Grazziotin (AM) à peemedebista Kátia Abreu (TO), incluindo as petistas Gleisi Hoffmann (PR), Fátima Bezerra (RN) e Regina Sousa (PI), nos discursos na Comissão do Impeachment do Senado, elas reafirmaram que a tentativa de afastar a presidenta eleita do cargo é um golpe perpetrado por um consórcio daqueles que não conseguiram vencer as eleições em 2014 e o PMDB, que assumiu o poder.

“Ficou óbvio que não se trata de um processo de impeachment. Isso aqui é um golpe. Transformaram o Congresso num colégio eleitoral de exceção”, afirmou a senadora Vanessa Grazziotin, destacando que o relator do processo, Antonio Anastasia, pertence a um partido de oposição ao PT.

“Vossa Excelência é do mesmo partido que fez a denúncia. Tenho que reconhecer, no entanto, que cumpriu bem seu papel, pois não foi tarefa fácil dizer que Dilma cometeu crime quando ela de fato não o fez”, afirmou Vanessa Grazziotin, destacando que o relatório inventa figuras jurídicas e parte de premissas equivocadas para chegar a conclusões igualmente equivocadas.

“Quem levar isso adiante vai levar para o resto da vida o carimbo de quem ajudou a dar um golpe num governo democrático”, concluiu.

“Mantra de irresponsabilidade”

A senadora Kátia Abreu (foto ao lado) também defendeu o governo da presidenta Dilma Rousseff e acusou os apoiadores do impeachment de forjar “um mantra da irresponsabilidade” em torno da gestão da petista, para justificar a crise econômica do país, sem considerar dificuldades enfrentadas nos últimos anos.

Segundo ela, os críticos de Dilma Rousseff não levam em consideração as crises enfrentadas e as dificuldades do governo federal em aprovar matérias no Congresso, especialmente durante a gestão de Eduardo Cunha à frente da Câmara dos Deputados.

E adiantou o voto contrário ao relatório de Antonio Anastásia, que pede o julgamento de Dilma Rousseff, afirmando não haver comprovação das acusações contra a presidenta afastada. “Não tem crime e, se não tem crime, é golpe”, concluiu a senadora.

Aspectos políticos

Também a senadora Gleisi Hoffmann se referiu ao processo em curso como um golpe. Em sua opinião, as pedaladas fiscais não configuraram operação de crédito, portanto não há crime fiscal. E quanto aos decretos, apontados como não tendo base legal, tinham base e foram tecnicamente instruídos para que Dilma Rousseff os assinasse.

“Quero falar sobre o aspecto político do golpe, dado que o julgamento aqui está sendo eminentemente político, e como esse cenário e conjuntura foram construídos para dar base a esse atentado contra a soberania popular. Não só por desprezar 54 milhões de votos que elegeram uma presidente da República, mas por desprezar a vontade popular manifestada no plebiscito de 1993, que manteve o presidencialismo e a República”, disse.

Segundo a senadora, nesse processo, o rito passou a ser mais importante que o mérito e passou a servir ao mérito. “O que temos aqui é apenas a forma à procura de conteúdo, por isso é um golpe. Ele é manso, branco, sorrateiro e sofisticado, mas é um golpe”, afirmou ainda Gleisi Hoffmann.

Sem justificativa

Para a senadora Regina Sousa (foto ao lado), a denúncia de que Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade não foi comprovada e o prosseguimento do processo de impeachment atende determinação para evitar que a presidenta chegue ao final de seu mandato.

Regina frisou que a crise econômica também não é justificativa para o afastamento da presidentada República. “Fernando Henrique Cardoso foi por três vezes ao FMI para poder fechar as contas e nem por isso foi impedido”, lembrou.

De acordo com a senadora, não há fundamentação técnica ou jurídica para o prosseguimento do processo de impeachment. Para Regina Sousa, Dilma Rousseff foi afastada por ter perdido sua base de apoio no Congresso Nacional.

A senadora Fátima Bezerra também se posicionou contrária ao processo de impedimento de Dilma Rousseff , destacando que o golpe faz o Brasil “caminhar de modo perigoso para o sepultamento de uma jovem democracia”.

E lamentou pelo PSDB ter “maculado” sua história como um dos protagonistas do golpe. Para ela, o partido não aceitou o resultado das últimas eleições e não está respeitando a soberania popular. “O golpe revela o desprezo da elite pela democracia. Elite que não quer abrir mão de privilégios”, constatou.