Impeachment é um golpe parlamentar, diz economista Bresser-Pereira

O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira criticou nesta terça-feira (3) o atual processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Classificando como “loucura”, ele disse que o procedimento deixará uma marca na história do Brasil. “Isso é um golpe parlamentar e vai trazer um arranho grave na democracia brasileira”, disse Bresser-Pereira. Ele também criticou o radicalismo dos discursos que têm sido difundidos por determinados grupos da sociedade. Assista o vídeo.

Bresser-Pereira

Para o economista, uma nação é forte quando sua sociedade se entende bem, e o ambiente permite a discussão democrática sem radicalismos, ao contrário do que tem acontecido nos últimos três anos, com a disseminação de um discurso de ódio de classes. “Mesmo em 1964 não havia isso. Mas a partir de 2013, de repente fui surpreendido por isso. Surge uma nova direita, raivosa, então isso é muito preocupante. O impeachment reflete também esse tipo de clima, que é um clima que não constrói uma nação e não permite que uma nação se desenvolva”, avaliou.

Bresser-Pereira também criticou a banalização do instrumento de impedimento do chefe do Executivo. “Estamos criando uma instabilidade política. Agora, todo presidente que tiver algum problema você já pode pensar em fazer um impeachment contra ele, e isso é muito ruim para o país”, disse. Na opinião do economista, essa banalização não deveria ser feita, especialmente contra a presidenta Dilma Rousseff.

“Nós estamos trocando uma presidente que é conhecidamente honesta por um sistema pouco claro nesse plano, estamos trocando uma administração na economia que cometeu seus erros mas tem um norte, para alguém que quer fazer um liberalismo econômico completo e que pensa que resolve todos os problemas do Brasil apenas fazendo ajuste fiscal. Eu acho que é uma troca muito ruim”, afirmou.

Saída econômica

Bresser-Pereira defende um ajuste fiscal que se considere uma elevação das receitas do governo, que sofreram por conta da recessão econômica brasileira. Na sua avaliação, o governo precisa estabelecer formas de tributar grandes finanças e heranças, mas sem cortes nos investimentos públicos federais.

“Eu tenho proposto insistentemente é que esse ajuste seja feito apenas na despesa e não nos investimentos do Estado, porque investimentos, pelo contrário, deveriam ser liberados e aumentados”, explicou. Entretanto, o economista disse que, caso a presidenta Dilma Rousseff seja afastada pelo processo de impeachment, as propostas apresentadas até o momento não trazem muito otimismo.

“A economia brasileira está começando a retomar, a indústria começando a recuperar, as exportações da indústria aumentaram substancialmente, e tudo isso vai por água abaixo outra vez. Por quê? Porque eles acham que o único problema do Brasil é fiscal”, disse.

O diagnóstico de Bresser-Pereira aponta outros problemas na economia brasileira, que não deverão ser combatidos, na sua visão.

“O problema brasileiro é uma taxa de juros escandalosamente alta, uma taxa de câmbio cronicamente e ciclicamente baixa. Ela deprecia nas crises, como aconteceu agora, mas depois volta a apreciar se você não tiver uma política cambial séria. Só que os liberais não têm política cambial nenhuma, e estão muito felizes com a taxa de juros alta, porque isso é bom para os rentistas. Então não vejo como esse possível governo pode dar certo”, afirmou.