Diógenes Júnior:  A São Paulo dos sorrisos possíveis

São Paulo — 462 anos. A São Paulo que reencontrei na semana em que é celebrado seu aniversário de fundação está muito diferente da cidade que deixei em 1997.

Por Diógenes Júnior*

Paulista aberta

Em busca de uma oportunidade profissional que me permitisse a subsistência, deixei para trás uma cidade cinza, desumana e sem a menor perspectiva de mudança, uma São Paulo que vivia o apogeu de um caos urbano já anunciado havia tempos.

“ Votem no Pitta e se ele não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim.” Com esse argumento estapafúrdio, Paulo Maluf, prefeito da Capital na gestão 1993–1997, fez seu sucessor, o tristemente célebre Celso Pitta(1946–2009).

Celso Pitta venceu a disputa pela cadeira de prefeito da maior cidade da América Latina no segundo turno das eleições de 1996 com 3.178.330 — 62,78% dos votos válidos contra 37,72% — 1.924.630 de votos dados a Luiza Erundina.

As recordações que trouxe comigo da São Paulo que deixei em 1997 remetem-me à visão de uma cidade cujo projeto político à época em nada contemplava o bem estar da maioria da população, a despeito do resultado expressivo das urnas.

Não havia muita coisa para um jovem pobre da periferia fazer.

Morador na Zona Sul, no Jabaquara, ouvia no rádio Mano Brown cantando que em São Paulo “só tínhamos como atração o bar e o candomblé pra se tomar a benção”, e concordava com o que ele dizia nas rimas de suas músicas.

Passados quase 19 anos desde minha partida, retorno à cidade em um momento especial, onde o debate político, principalmente sobre ocupação de espaços públicos e mobilidade urbana estão no centro das discussões cotidianas.

Foi uma experiência incrível, como cidadão, poder caminhar, dividindo com outras pessoas os espaços da avenida Paulista, avenida que é o símbolo maior da cidade e de toda sua pujança.

Não apenas caminhar, mas andar de skate, sentar no chão, tirar fotos, observar as pessoas, cumprimentá-las, sorrir com e para elas.

Ontem eu senti um clima diferente, a transformação radical que a cidade vem sofrendo para melhor, muito melhor.

Ontem me senti mais cidadão, no exercício pleno de minha cidadania, ocupando o espaço que por direito também é meu e é de todos nós.

Eu vivi ontem a experiência de uma São Paulo diferente, uma São Paulo possível, uma cidade caminhando de mãos dadas com pessoas que desejam torná-la mais humana.

Uma cidade privilegiando ciclovias, parklets, espaços públicos, Direitos Humanos e cidadania.

São Paulo está na direção certa, na vanguarda de um projeto que empodera o cidadão como centro das atenções e, não, como outrora, o carro, a máquina, o patrimônio privado em detrimento do espaço público.

São Paulo pode continuar a ser a cidade de famílias inteiras com bicicletas, triciclos, skates, cães passeando em frente ao MASP.

Crianças jogando bola, pulando corda, casais de mãos dadas, namorando, tomando sorvete.
Sorrisos. Muitos sorrisos!

Serão essas as recordações de São Paulo que levarei em meu coração quando retornar para Porto Alegre, as recordações de um movimento libertador, da cidade que um dia foi cinza mas pinta, hoje e com cores vibrantes, uma linda página em sua história, usando a proposta de um projeto político que poderá promover a pavimentação dos caminhos da realização de uma verdadeira revolução social.

♫ Podemos sorrir, nada mais nos impede
não dá pra fugir dessa coisa de pele
sentida por nós,desatando os nós.
Sabemos agora, nem tudo que é bom vem de fora
é o povo quem produz o show
e assina a direção… ♫
(Coisa de Pele — Jorge Aragão)

Que São Paulo possa continuar a ser uma cidade de sorrisos possíveis!

Parabéns Fernando Haddad por sua gestão no comando maior cidade da América Latina.

E viva São Paulo pelos seus 462 anos!

*Diógenes Júnior é estudante de Ciências Sociais, analista de mídias sociais no Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul, pesquisador independente, militante do PCdoB e ativista dos Direitos Humanos.