Ditadura aprofundou desigualdades no Brasil

Após uma queda ampla ininterrupta entre 1942 e 1963, a desigualdade social no Brasil deu um salto e voltou a crescer rapidamente nos primeiros anos da ditadura militar, a partir do golpe de 1964. Antes do golpe, governos democráticos, como os de Juscelino Kubitschek e João Goulart, vinham reduzindo a concentração de renda.

CDH do Senado lembra 51 anos do golpe militar de 1964 - Agência Senado

A conclusão faz parte de uma pesquisa, de autoria de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, sob orientação de Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Universidade de Brasília (UnB). O estudo reacende um debate que, nos anos 70, mobilizou grandes nomes da economia nacional em torno da questão.

No âmbito geral, o Brasil sempre foi muito desigual. Em média, ao longo das nove décadas analisadas pela pesquisa, cerca de 15% de toda a renda do país esteve concentrada nas mãos da fatia 1% mais rica. A desigualdade é grande até dentro da elite: historicamente, após 1974, a parcela 0,1% mais rica deteve entre 8% e 15% da renda total.

Entre 2006 e 2012, o 1% mais rico concentrava mais renda, comparativamente, do que toda a metade mais pobre da população.

A novidade da pesquisa é apontar que a desigualdade social pode ser conduzida politicamente. "A grande pista está dada. O Estado é um elemento crucial para determinar a trajetória da desigualdade", afirma o pesquisador Souza, em entrevista ao Valor.

"Meus resultados confirmam que houve aumento da desigualdade e indicam que a fatia dos mais ricos aumentou principalmente nos primeiros anos da ditadura", disse. Ele destaca que a estratégia do regime militar para lidar com a inflação e tentar alavancar o crescimento basicamente tentou reduzir o custo do trabalho via arrocho salarial e aumentar o retorno do capital. "Já nos primeiros anos depois do golpe diversos incentivos fiscais para determinados investimentos foram incluídos nas regras do imposto de renda", acrescentou