Alckmin troca presidente da CPTM e esconde indiciado no trensalão

Com as investigações do trensalão fora do foco da grande mídia, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu trocar o presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), já que o atual, Mário Bandeira, foi indiciado pela Polícia Federal no inquérito que apura o pagamento de propinas nas licitações de trens do governo tucano.

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O escolhido para substituir Bandeira é o engenheiro Paulo de Magalhães Bento Gonçalves. O governo tucano também prepara a mudança na presidência do Metrô. Apesar do escândalo que aponta o desvio de pelo menos R$ 425 milhões nas obras do metrô e trens metropolitanos do estado durante os governos do PSDB, pouco se avançou na apuração dos envolvidos.

As "investigações" por parte do governo estão paralisadas e a saída discreta de Bandeira é mais uma demonstração de blindagem por parte do governo, que não afastou servidores que foram indiciados pela Polícia Federal e engavetou sugestões de uma comissão especial criada, à época, para ajudar na apuração do caso.

Diferente da Petrobras, em que a direção da estatal optou pelo bloqueio de contratos com empresas investigadas, as empresas flagradas no trensalão continuam atuando em obras estaduais. “Eles, do governo, é que não deram prosseguimento às nossas sugestões”, disse à revista IstoÉ o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo.

Bandeira foi indiciado pela PF por fraude. Em 2005, ele fez um aditamento a um contrato, assinado pela gestão Covas dez anos antes, com o Consórcio Ferroviário Espanhol-Brasileiro (Cofesbra) – integrado por Alstom Brasil, Bombardier e CAF Brasil Indústria e Comércio -, para aquisição de 12 trens ao preço de R$ 223,5 milhões, segundo valores da época. De acordo com as investigações, Bandeira deveria ter aberto nova licitação, em função do tempo decorrido desde a celebração do contrato inicial.

O relatório final do inquérito da PF atribui a Bandeira "ilicitude flagrante pela modificação ilegal do contrato, não se observando a necessidade de um novo processo licitatório para uma nova compra de trens".

A PF aponta intermediação do engenheiro Arthur Teixeira, suposto lobista do cartel – seu advogado, Eduardo Carnelós, afirma que Teixeira é consultor e nunca pagou propinas.

Para a PF, o indício do envolvimento de Teixeira consta de documentação encaminhada pelo Reino Unido, onde a Alstom foi alvo de investigação. "Um e-mail apreendido pelas autoridades britânicas revela a intermediação dele (Teixeira) com os empresários e, ainda, que Bandeira foi o principal idealizador do aditivo, com a manifesta intenção de evitar o que seria a devida licitação", aponta a PF.

O e-mail foi redigido por Teixeira, diz a PF. "Fomos chamados pelo sr. Mário Bandeira, presidente da CPTM, para nos comunicar a decisão de ampliar, no menor prazo possível, a frota de trens que serve atualmente o Expresso Leste. A CPTM considera que a melhor solução para implementar rapidamente essa expansão será através de aditivo ao contrato Cofesbra, até 25% do valor do contrato original, que permitiria, além de manter a padronização do material rodante dessa linha, reduzir bastante os prazos de contratação e entrega devido à ausência do processo de licitação."

A PF afirma que Teixeira pagou propinas por meio da GHT Consulting, do Uruguai. O delegado Milton Fornazari Junior indiciou Bandeira e o diretor de Operações da CPTM, José Luiz Lavorente, por violação ao artigo 92 da Lei 8666/93 (Lei de Licitações) – quando há mudança contratual.

Fonte: Estadão