Venezuela no Mercosul e movimentos sociais: tudo a ver

Na semana passada a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul, por 44 votos a 17. A aprovação pelo plenário da Casa, ainda sem data marcada, é dada como mais tranqüila. Mas os inimigos da integração continental, afinados com Washington, se entrincheiram no Senado com a intenção de detonar a proposta. O braço-de-ferro reclama a atenção e a mobilização do povo brasileiro, de suas entidades e movimentos.



O ingresso da Venezuela, terceiro maior PIB sul-americano, será decisivo para a consolidação do Mercosul, impulsionando a integração do continente e com isto o conjunto da causa emancipacionista. Tem significado estratégico, ditado por razões de Estado, e pelos interesses históricos – no sentido mais amplo e profundo do termo – dos povos da América Latina.



Os anos da era neoliberal e das ''relações carnais com os Estados Unidos'', como dizia um governante de então, hoje recordista de rejeição entre os seus compatriotas, deixaram os países desta parte do mundo de costas uns para os outros, e na iminência da recolonização pela via da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). A reviravolta política que se seguiu soterrou a Alca e trouxe para a ordem do dia a integração latino-americana, que tem no Mercosul seu mais consolidado instrumento. É este o motivo de fundo da oposição conservadora brasileira, viúva da Alca, ao apontar sua artilharia contra o pedido de ingresso venezuelano.



Para efeito pirotécnico, os antiintegracionistas alegam que a ''Venezuela de Chávez'' não obedece à cláusula democrática do Protocolo de Ushuaia. É preciso uma desfaçatez a toda prova para fazer a acusação justamente ao país que vive um auge democrático e participativo: no domingo que vem ele celebrará sua décima consulta às urnas em nove anos.



O xis do problema é bem outro. É que na Venezuela de hoje a vontade soberana da maioria, cláusula pétrea das cláusulas pétreas democráticas, contraria o desejo dos antiintegracionistas, pois reforça o presidente Hugo Chávez, a revolução bolivariana, a resistência antiimperialista e o que ficou conhecido como socialismo do século 21.



O governo federal, com destaque para o Itamaraty do chanceler Celso Amorim e do secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães, está coberto de razão quando se empenha em garantir que o Congresso Nacional aprove o pedido de ingresso. E o faz com argumentos incontestáveis, como o de que o país vizinho já é o terceiro maior mercado para as exportações brasileiras.



Os movimentos sociais, que também são parte diretamente interessada na disputa, precisam fazer a sua parte: apresentar as suas razões, exercer a sua legítima pressão sobre os deputados e senadores, para que votem com os interesses do Brasil e da integração continental. Não se justifica, por exemplo, que o senador José Sarney (PMDB-AL), iniciador da obra do Mercosul quando governou o Brasil, agora faça coro com os antiintegracionistas. A força, os argumentos e a capacidade de persuasão do povo organizado podem jogar um papel muito concreto, em uma decisão cujo resultado se projetará sobre os próximos anos e décadas.