Uma conferência pelo desenvolvimento nacional

Já houve um tempo em que, quando se falava em desenvolvimento nacional, pensava-se apenas em crescimento econômico, justificando-se essa prioridade com a alegação de que primeiro era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo.

Esse tempo passou e uma demonstração disso é a 2ª Conferência do Desenvolvimento, que ocorre em Brasília, entre a quarta (23) e a sexta-feira (25), promovida pelo Ipea e envolvendo no debate estudantes, profissionais, agentes públicos, estudiosos, pesquisadores, especialistas, professores e legisladores, entre outros. Está prevista a participação de mais de mil palestrantes e atividades que envolvem inúmeros lançamentos de livros, painéis, mesas, oficinas, etc., e a apresentação de 260 trabalhos inéditos sobre desenvolvimento.

A convicção de que o desenvolvimento se faz, e se fortalece, com a distribuição de renda e a melhoria das condições de vida do povo, pode ser constatada no pronunciamento do ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Moreira Franco, que vê a chamada “classe média” emergente da última década como garantia e suporte para a continuidade do desenvolvimento. Esta parte da população, chamada de “classe média”, conheceu uma melhoria em sua renda e condições de trabalho, sendo responsável, disse o ministro, por injetar mais de um trilhão de reais na economia anualmente, sustentando com seu consumo o desenvolvimento nacional e permitindo, inclusive, o enfrentamento da crise econômica mundial em condições mais favoráveis.

Na verdade, o que vem sendo chamado de “classe média” integra em grande medida a classe trabalhadora brasileira resgatada do desemprego (15 milhões de postos formais de trabalho foram criados nos governos Lula) e beneficiada pelo aumento real do salário mínimo e de outros salários. A vida comprovou que é justa a ideia levantada pelos sindicatos de que a valorização do trabalho é fonte de desenvolvimento, na medida em que significa pleno emprego das forças produtivas e fortalecimento do mercado interno, enquanto a crise mundial mostra que a proteção a qualquer custo da valorização do capital financeiro conduz à estagnação econômica e ao desemprego em massa.

Em meio à turbulência econômica dos últimos anos, existem motivos de regozijo, sem dúvida. Mas a manutenção dos êxitos apresentados depende – alertou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann – da continuidade e do avanço dessa melhoria na vida do povo e dos trabalhadores.

Este é o alicerce em que se assentam os avanços econômicos relativos que o país apresenta,uma conquista que é preciso consolidar e manter, advertiu Pochmann. Além da superação das fortes desigualdades que persistem no país, ele chamou a atenção para outras dimensões do desenvolvimento, entre elas o fortalecimento da integração sul-americana e o aumento da capacidade de defesa das riquezas nacionais e da soberania do país.

A realização da 2ª Conferência do Desenvolvimento pode ser vista como uma conquista que destoa, neste aspecto, do descaso assistido pelo país durante o período de hegemonia neoliberal, sob Fernando Henrique Cardoso, época em que falar de desenvolvimento nacional e do envolvimento do Estado e da sociedade nesse debate, era uma verdadeira heresia contra o culto ao “deus mercado”.

Este é mais um aspecto da mudança que o Brasil viveu desde a posse de Lula, em 2003. Agora, o desenvolvimento é um assunto nacional e envolve a todos. Envolve por exemplo militantes dos movimentos de mulheres e de negros, que lutam contra a opressão e a desigualdade e exigem um projeto progressista para superar estas distorções. Envolve a juventude, que está presente no debate através da União Nacional dos Estudantes (UNE). Envolve os trabalhadores e os empresários produtivos nacionais que lutam pela mudança na política macroeconômica.

O mais importante desta 2ª Conferência é a constatação de que o desenvolvimento não é uma questão técnica, ou econômica, como quer o conservadorismo neoliberal. É uma questão fundamentalmente política e exige, na contramão dos dogmas conservadores, a forte presença do Estado nacional, sob o comando de forças progressistas, para inaugurar um ciclo virtuoso para os brasileiros. A Conferência é um passo importante para isso na medida em que, além de partilhar experiências e fortalecer convicções, possa contribuir para as mudanças econômicas necessárias nesse rumo.