TVs sabotam o debate eleitoral no Rio

Os 4,58 milhões de eleitores do município do Rio de Janeiro irão às urnas no domingo que vem sem terem o direito de acompanhar pela TV um único debate dos candidatos a prefeito. A amputação é um acinte antidemocrático possivelmente sem paralelo em nenhuma cidade brasileira que possua seu canal de TV, ou mesmo no passado eleitoral do Rio. Resultante de um comportamento sórdido das redes televisivas, com base em desculpas esfarrapadas, ombreia em cinismo com o Escândalo Proconsult, a tentativa de fraude nos resultados da eleição de 1982.


 


A Rede Bandeirantes, que se orgulha de ter inaugurado os debates televisivos pós-ditadura, nos idos de 1982, este ano promoveu dois deles em São Paulo… e nenhum no Rio. A Record, que levou ao ar no domingo o terceiro debate paulistano, roeu a corda no Rio, apesar de, ou devido a, estar empenhada até os cabelos na eleição onde concorre um ex-bispo da Igreja Universal. A Globo ainda mantém um debate programado no Rio, para a próxima quinta-feira. Lorota; fontes as mais qualificadas da mega-rede já sinalizaram em conversas privadas: não haverá debate. A TV Brasil, como bem lembrou o candidato Chico Alencar (Psol), podia ter tomado a iniciativa mas ficou na dela.


 


O deputado Paulo Ramos, que concorre à Prefeitura pelo PDT e figura nas pesquisas com 1% a 2% das intenções de voto, fornece o pretexto para a sabotagem eleitoral televisiva. Apenas o pretexto – embora indesculpável: as emissoras o usam como folha de parreira para cobrir sua má vontade.


 


São detentoras de concessões públicas, mas recusam-se a cumprir com a elementar obrigação cívica de permitir que esta eleição tenha debate. Por quê? Não porque Paulo Ramos criou um problema. Nem sequer por cupidez, já que um debate teria audiência elevada e atenta. Fazem-no por mal disfarçado interesse em uma votação despolitizada, rebaixada.


 


É um atentado do ponto de vista democrático, que se comete bem debaixo do nariz do restante da mídia, sem motivar mais que notinhas irônicas. E tem um agravante seríssimo, já que, no Rio mais que em qualquer outra capital, o quadro da eleição permanece indefinido e em aberto, justamente porque o eleitor não teve acesso ao necessário debate.


 


Debate aparece aqui como sinônimo de confronto de idéias, plataformas e perfis, de politização, de quebrar as redomas da marquetagem e colocar os candidatos face a face, ao vivo diante do eleitor. Por isso o impedem. Que se dane a democracia, concluiram os autocratas da telinha; por que correr riscos se as pesquisas vão indicando justamente o segundo turno dos seus sonhos?


 


Ao eleitor carioca resta perguntar por que não o deixam assistir a debates. E responder que, mesmo sabotado, não irá votar às cegas; questionará e confrontará ele mesmo as candidaturas, separará a verdade da marquetagem, pesará as propostas, os compromissos, as chances. Há na sua legendaria rebeldia as forças capazes de derrotar, como fez com o Proconsult da ditadura em 1982, a armação antidemocrática que lhe aprontam de novo.