Revista The Economist pressiona Brasil pelo neoliberalismo

Na edição que está nas bancas, a revista inglesa The Economist publica um caderno especial de 14 páginas sobre o Brasil — com direito a uma página de editorial e uma chamada de capa. Este semanário, fundado em 1843, forma ao lado do diário também inglês Financial Times (1888) e do norte-americano The Wall Street Journal (1889) a trinca dos mais importantes órgãos do grande capital financeiro internacional. O lema de fundação da Economist reza “promover um profundo combate entre a inteligência, que pressiona no sentido do avanço, e a desrespeitosa ignorância que atravanca o progresso”. No caso brasileiro, a “inteligência” – segundo a revista – seria o fato de o país ter dobrado o volume de exportações desde 2003, da inflação estar sob controle, das taxas de juros (que estão em nível alto) estarem decrescendo, do déficit público se apresentar mais maleável, entre outros índices promissores. E a “ignorância” seria que o Estado brasileiro “continua a cobrar altos impostos e a maior parte do dinheiro público estar sendo aplicado em coisas erradas, como por exemplo: o absurdamente generoso gasto público de cerca de 11% do PIB com os aposentados ou a excessiva regulamentação que inclui um conjunto de leis trabalhistas copiadas do fascismo de Mussolini, ou a falta de investimento em estradas, portos e aeroportos, além de riscos de apagão na área energética”.


 


Em sua reportagem, a revista procura desenhar um quadro da situação social do país e do perfil mais recente da economia brasileira, fazendo um balanço do primeiro mandato do governo Lula e insistindo no aprofundamento da política neoliberal para enfrentar seus desafios no que resta do segundo mandato até 2010. São oito reportagens e uma introdução com gráficos, tabelas e mapas. Os títulos das matérias dão o tom geral do conteúdo: “O maior inimigo de um Brasil melhor é seu Estado insustentável”; “Inflação baixa estabeleceu um ambiente maravilhoso para as finanças e a indústria”; “A natureza tem sido extremamente pródiga com o Brasil”; “A terra, para os brasileiros, ainda tem uma qualidade mítica”; “Os esforços para reduzir a pobreza e a desigualdade têm dado alguns frutos”; “A educação ainda está por baixo”. Para terminar, o caderno especial tenta explicar porque o Brasil tem demorado tanto tempo para atingir seu potencial.


 


No plano político, a Economist critica o Governo Lula, argumentando que o Brasil poderia ter uma performance muito melhor do que teve até agora. Especialmente quando conclama o presidente brasileiro a capitanear as chamadas reformas “impopulares”, como a flexibilização da  legislação trabalhista, a redução de impostos em geral e principalmente a reforma no sistema de aposentadoria. O editorial desqualifica o PAC, o programa de aceleração do desenvolvimento, que segundo a revista oferece apenas um modesto corte de impostos e um aumento igualmente pequeno no investimento do Estado. A este órgão do grande capital financeiro e industrial se juntam outras vozes no Brasil insistindo na mesma receita de política econômica, propugnando altas reservas para tentar zerar a dívida externa e ainda permitir um colchão de US$ 30 bilhões para qualquer eventualidade de turbulências no mercado internacional, o que subentende a defesa de um superávit alto e a manutenção de uma política ortodoxa e restritiva do desenvolvimento.


 


Ao contrário do que diz a revista inglesa, não será com a aplicação das derrotadas teses neoliberais que o Brasil poderá se desenvolver. A política de privatizações, que o governador José Serra, em São Paulo, a governadora Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, e outros dirigentes do PSDB ensaiam aplicar em seus Estados, foi rechaçada pela população nas últimas eleições de forma cabal. O receituário neoliberal que a Economist sistematiza em sua reportagem sobre o Brasil não tem futuro no país. O céu de brigadeiro da política financeira ortodoxa começa a se alterar. As alterações recentemente promovidas na diretoria do Banco Central e a nomeação de um economista que tem compromissos com o desenvolvimentismo, como Luciano Coutinho, para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, contrariando a vontade do atual Ministro Miguel Jorge, apontam neste rumo.


 


Contrariando também o editorial da revista que rebaixa o papel do PAC, neste segundo mandato de Lula, o Governo está monitorando a indução da aceleração do crescimento, com a implantação do PAC gerenciado diretamente pela Ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil da presidência da República, através de um comitê gestor composto por três ministros de Estado e quatro secretários gerais de Ministérios afins. O PAC, hoje, é a principal peça de ação governamental, atuando principalmente na esfera da infra-estrutura nacional, nas áreas de energia, transporte e desenvolvimento regional. Com isso, o Brasil poderá cumprir e superar a meta de crescimento econômico no patamar de 4,5% do PIB, já para 2007.


 


Mas a luta entre a ortodoxia financeira e o desenvolvimentismo continua.  O problema é que somente com o efetivo crescimento econômico, com uma solução adequada para a questão cambial e dos juros, é que poderemos ter o crescimento sustentado, com distribuição de renda e valorização do trabalho. A decisão da última reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, entretanto, não deu sinais ainda de contribuir para acelerar o crescimento, decidindo por margem apertada de seus membros, 4×3, reduzir apenas em 0,25% o nível da taxa Selic, no patamar atual de 12,5%. Restou a avaliação de que esta divisão entre os membros do Copom signifique uma sinalização que a autoridade monetária, na próxima reunião de junho, poderá cortar os juros em 0,5 ponto percentual.