Rastro de corrupção e barbárie do governo Bolsonaro

Bolsonaro

A denúncia de corrupção no contrato para o fornecimento da vacina indiana Covaxin, que teria um aditivo contratual superfaturando o valor da licitação junto ao Ministério da Saúde, revela uma das faces do governo Bolsonaro. Primeira constatação: se há denúncia, é preciso investigá-las com rigor. Segunda: essa revelação se soma aos escândalos que se vão sucedendo, um tapete que precisa ser levantando, além da cadeia de desmandos que se formou a partir do método autoritário do presidente da República, a denúncia se junta a outras, com evidências de tráfico de influência, favorecimento de empresas e pessoas, entraves em investigações e ações fiscalizatórias contra infratores de normas legais e até da Constituição.

Os indícios são de que Bolsonaro não fala a verdade quando afirma que não há corrupção em seu governo. Essa denúncia se soma à desordem administrativa, à incompetência e à irresponsabilidade no trato de questões do interesse do povo e do país. Não à toa, o presidente sempre reage às denúncias com estardalhaço, comportamento típico de quem busca negar os fatos e até criar discurso para se opor aos fatos, as chamadas fake news. Tenta preservar o apoio a um governo que já conquistou seu lugar na história como responsável pelo aumento do desemprego, da miséria e da fome, além dos ataques à democracia e das mortes devidas a negligências com a pandemia da Covid-19 e, agora, também da corrupção que já não consegue mais encobrir .

A verdade é que num governo com essa natureza ideológica, de extrema direita – sem projeto para o país, sem rumo e sem horizonte político, características intrínsecas dos regimes autoritários –, é propício à corrupção nas instituições, que tende a ser institucionalizada. É a mistura do público com o privado, o ideal de transformar o Estado em aparato político a serviço de nichos que se beneficiam do autoritarismo, um sistema de poder que pretende empurrar a institucionalidade do país para longe da legalidade democrática, da luz do dia, da jurisdição da democracia.

É lá, na escuridão da noite, no vazio legal, no vácuo do controle do poder público pelo sistema constitucional, que está o ambiente mais propício para vicejarem suas trapaças. Seus líderes criam sua própria lei, diversificam suas atividades ilegais, exploram a população, compram esquemas políticos e hordas milicianas. É o império da gambiarra, a indústria da maracutaia. Numa definição: fascismo maquiado com falso nacionalismo e defesa fictícia das liberdades públicas, que se transforma em terreno fértil para a corrupção.

Enfim, desmandos de governos autoritários, bem conhecidos na história, a começar pela desfaçatez do presidente de começar sua campanha pela reeleição antes da hora, usando meios e os recursos públicos, se enredando em denúncias de corrupção cujas características e dimensões devem estimular a oposição a se empenhar na ampliação de forças para contê-lo. O aprofundamento das investigações da CPI da Covid-19 e o crescimento das manifestações de rua tendem a consolidar o combate firme e frontal ao bolsonarismo, uma necessidade que se impõe pela urgência decorrente do rastro de barbárie que este governo já produziu.