Quem esconde quem na propaganda eleitoral

A nova moda da campanha dos tucanos à presidência da República, compartilhada pelo coro dos jornalistas e da mídia que defende, ingloriamente, a candidatura de Geraldo Alckmin, é alegar que Luís Inácio Lula da Silva  esconde o PT e os símbolos partidários em sua propaganda eleitoral na televisão. Como um mantra, esse argumento espalha-se pela imprensa conservadora e repercutiu inclusive no diário espanhol El País que, na sext-feira, publicou um artigo com essa ''informação''.


 


Lula é candidato à reeleição por uma frente formada pelo PT, PCdoB e PRB,  e não tem por quê esconder qualquer um deles, principalmente o PT, que fundou e do qual é um dirigente histórico. Tem ainda o apoio informal de outros quatro partidos  (PSB, PL, PTB e a maior parte do PMDB).


 


O argumento segundo o qual o presidente esconderia seu partido é malandro e faz parte da tentativa de requentar e manter ativa a crise desencadeada em maio de 2005, contra o governo, o presidente e os partidos da base aliada, e que atingiu fundamente o PT.


 


As respostas para aquelas acusações foram dadas no momento oportuno. Em primeiro lugar, toda a direção nacional petista foi afastada de seus cargos, assim como os membros do núcleo do governo – entre eles seus dois pilares, os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci – atingidos pelas acusações. Em segundo lugar, é preciso repetir, nunca houve na história brasileira um período com tanta liberdade de investigação como o atual, em que a Polícia Federal, a Controladoria Geral da União, o Ministério Público e as Comissões Parlamentares de Inquérito podem livremente cumprir suas funções, independente de quem quer que seja o investigado (políticos, empresários, funcionários públicos e mesmo policiais e juízes).


 


É esta a realidade que desmonta o argumento ''ético'' da direita. Mas há outro aspecto ao qual os comentaristas do ninho tucano-pefelistas não se referem: apesar de todo o barulho que fizeram, na imprensa e nas CPIs, seus ataques não surtiram os efeitos de seus sonhos, que era reduzir a pó o campo da esquerda e dos partidários do progresso social.


 


Quase um ano depois do início daqueles ataques, em março de 2006, o Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo fez uma pesquisa sobre a imagem dos partidos perante o eleitorado. E o resultado foi desolador para os partidos da direita. Por exemplo, 40% dos eleitores diziam que o PT era o partido que mais defende os pobres, contra apenas 5% para o PSDB e 3% para o PFL. A direita perdia também no quesito ''quem defende melhor os interesses do Brasil'': para 29% era o PT, contra 8% para o PSDB e 5% para o PFL. Quando os pesquisadores quiseram saber quem faz os melhores governos, 23% indicaram o PT, contra 11% que escolheram o PSDB e 5% que se referiram ao PFL.


 


Outra pesquisa, realizada em junho de 2006 pelo instituto Vox Populi, apenas no Distrito Federal, confirmou estes resultados ao mostra que, entre aqueles que indicaram uma preferência partidária, 47% escolheram o PT, 37% o PMDB, contra  somente 13% partidários do PSDB e  3% do PFL.


 


Pois é: o argumento da moda, de que Lula esconde o PT na propaganda política, não tem fundamento. Mas talvez ele reflita uma situação inversa. Os mandarins que comandam a oposição neoliberal decidiram, por exemplo, esconder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua campanha eleitoral, como informou a jornalista Dora Kramer, que circula desembaraçadamente nos ambientes tucanos; eles chegam ao cinismo de dizer que o motivo não são os altos índices de rejeição do ex-presidente, mas o fato de que ele ''pertence à história''!.


 


Muito mais grave, e talvez surpreendente para os mandarins tucanos, é o que ocorre nos estados do Nordeste, onde a propaganda eleitoral de candidatos tucanos e pefelistas a governador, senador e deputados, esconde o candidato Geraldo Alckmin. As esperanças de ganhar pontos com o início da campanha no rádio e na televisão parecem escoar-se por entre os dedos, e a crise voltou à campanha do ex-governador paulista. 


 


Os ''aliados'' de Alckmin apresentam razões fortes para deixar de associarem-se à sua imagem. Agripino Maia, líder do PFL no Senado, explicou a um jornalista que mantém uma coluna na internet: ''Os candidatos proporcionais (que disputam vagas de deputado estadual e federal) estão no fio de navalha. Qualquer fator negativo pode tirá-los da disputa. Por essa razão, têm o receio de se escorar em quem está por baixo nas pesquisas''.


 


A mesma coisa se repetiu em Pernambuco, onde os tucanos esperavam ter uma situação mais sólida. O governador Mendonça Filho (PFL), que concorre à reeleição, aliado ao PMDB e ao PSDB, não citou Alckmin em seu programa mas exibiu imagens do presidente Lula. E Jarbas Vasconcelos, do PMDB/PE, que tem 69% das intenções de voto na disputa pelo Senado, e pelo menos formalmente apoia Alckmin, não tergiversou. ''O presidente Lula está lá em cima'', disse. Em Pernambuco, ele tem 70% das intenções de voto, contra apenas 11% de Alckmin. ''Foi preciso botar a imagem do Lula dizendo que eu tinha sido um parceiro fundamental para que a refinaria tivesse vindo para cá'', disse. ''Ë preciso entender que precisamos consolidar a nossa posição antes de ajudar o candidato à presidência''.


 


A situação é tão grave para a campanha de Alckmin que o presidente nacional do PFL, o senador e oligarca catarinense Jorge Bornhausen, decidiu enquadrar seus aliados regionais e mandou dizer aos dirigentes estaduais do partido que é obrigatório colocar, nos programas de tevê da coligação PSDB / PFL uma vinheta com referência a Alckmin.


 


É um quadro oposto ao descrito pelos comentaristas tucanos: eles e seus candidatos já não podiam confessar o programa neoliberal que defendem e é repudiado pela opinião pública. E, agora, muitos de seus ''aliados'' não podem, nem querem, sequer confessar que apoiam Geraldo Alckmin para presidente!