Quantos meses faltam para outubro de 2010?

Contrariando a lógica matemática, mas guiados pela lógica política, muitos caciques partidários poderiam responder a pergunta do título dizendo: seis meses.



É este o período de tempo que separa o mês de abril das eleições municipais de 2008. Mas para muitos políticos, este é também o período no qual acordos e articulações serão feitos visando às eleições presidenciais de 2010.



Dois exemplos muito nítidos desta lógica estão freqüentando o noticiário nas últimas semanas: o apoio do PMDB ao DEM na eleição paulistana e a tentativa de costurar uma aliança entre PT, PSB e PSDB para a disputa da prefeitura de Belo Horizonte.


 


Nestes dois tabuleiros do jogo político, as personagens movem-se quase sempre pensando na disputa de 2010. Em Belo Horizonte, o atual prefeito Fernando Pimentel (PT) quer o apoio do governador Aécio Neves (PSDB) disputar o governo do estado em 2010. Aécio, por sua vez, vê a aliança como estratégica para alavancar sua candidatura presidencial, também em 2010. E parte do PT nacional, sabendo disso, tenta impedir que o acordo se efetive. Teme que o fortalecimento de Aécio Neves –especialmente se ele migrar para o PMDB– obrigue o PT a desistir de uma candidatura própria na sucessão do presidente Lula. Até mesmo Ciro Gomes tem interesse na disputa mineira, pois seu partido, o PSB, é o noivo do casório anunciado.


 



Em São Paulo, o jogo é ainda mais pesado. O PMDB bandeou-se para o lado do atual prefeito Gilberto Kassab só depois que o DEM jurou apoiar Orestes Quércia para a disputa ao Senado em 2010. Este, por sua vez, já fala em apoiar os tucanos na sucessão de Lula. Nos bastidores, o governador José Serra (PSDB) incentivou a aliança DEM-PMDB também de olho em 2010, conspirando contra o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que pretende concorrer à prefeitura, mas tem sido convidado a se retirar da disputa e, em troca, receber o apoio de Serra para voltar ao governo do Estado em 2010.


 



Em segundo plano, o PT observa com preocupação a aproximação do PMDB com a direita, pois os peemedebistas estão na lista de parceiros preferenciais dos petistas para 2010. A preocupação só não é maior pelo fato de Quércia ter pouca influência nas decisões do PMDB nacional.



A tendência de tentar antecipar o jogo eleitoral não é nova. Mas nem sempre dá certo, pois a dinâmica da política costuma ser cruel e implacável com acordos antecipados. Assim, nada garante que os acordos costurados em 2008 com os olhos voltados para 2010 irão facilitar a vida de seus signatários nas urnas.



Pelo contrário. Muitas vezes, os signatários dos acordos pré-eleitorais esquecem um detalhe que faz toda a diferença no jogo político: a capacidade do eleitor de julgar a justeza de uma aliança. Ainda que as alianças sejam respaldadas pela estrutura partidária, nem sempre o eleitor engole os certames pré-eleitorais. Ainda mais quando estes acordos envolvem a capitulação, a traição a princípios éticos e ideológicos, o engavetamento de compromissos políticos e o cerceamento de candidaturas legítimas.