Propagação da pandemia entre os mais pobres se deve a Bolsonaro

O estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o IRD (Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento), indicando que cidades com maior quantidade de trabalhadores informais foram as mais afetadas pela Covid-19 revela mais do que o poder de propagação do vírus. Revela as consequências da precariedade da infraestrutura do país e a irresponsabilidade dos governantes que negligenciam a gravidade da situação, a começar pelo presidente da República, Jair Bolsonaro.

O ponto de partida é o avanço da crise econômica, que deveria ser tratado com o rigor exigido em um país com uma força de trabalho historicamente submetida a todo tipo de precariedade. Com a brutal elevação do desemprego, era absolutamente previsível que um grande contingente de trabalhadores poderia ser exposto à contaminação na busca da sobrevivência. Para evitar o alastramento do vírus, uma visão minimamente humanista buscaria meios para suprir essa sobrevivência sem a exposição à propagação da pandemia.

Como essa providência não foi tomada, esses trabalhadores foram impelidos a se arriscarem e o resultado é o que aparece nesse estudo. Pode-se, sim, dizer que essa verdadeira tragédia se deve à conduta negligente sobretudo de Bolsonaro. É de amplo conhecimento, mas não custa repetir, que muito do que está acontecendo deve ser atribuído a descasos como no auxílio emergencial, na ajuda às empresas mais vulneráveis e no socorro aos estados municípios.

O tratamento dado por Bolsonaro ao Ministério da Saúde é outro componente relevante dessas consequências. A negligência da pasta em relação às medidas reconhecidamente eficientes para conter a propagação da pandemia, como isolamento social e testagem em massa, não pode ser entendida fora do âmbito da conhecida irresponsabilidade do governo Bolsonaro. A confluência desses fatores é um forte viés para se entender essa constatação do estudo.

Outro forte viés é o descaso com a infraestrutura do país. Os déficits em aspectos essenciais para a contenção da pandemia, como habitação e transporte público, deveria ocupar os primeiros lugares na ordem de prioridade do país. No entanto, o que se vê são arrochos orçamentários que comprometem o pouco que havia de investimentos em moradia popular e melhoria nos meios de transporte coletivo. O caso mais emblemático é da Emenda Constitucional 95, a do teto de gastos.

Esse cenário compõe o enredo de um governo comprometido com uma política econômica e monetária restritiva, que transfere recursos dos pobres para os ricos de forma brutal. Não há explicação para o descaso com a infraestrutura do país, que deveria receber a atenção devida para minimizar as condições sociais de transmissão do vírus, além da negligência no tratamento da prevenção via ajuda econômica e ação do Ministério da Saúde, fora dessa lógica financeira que arrocha o Estado e drena seus recursos para o circuito rentista.

Há ainda outra consequência relevante dessa política – o descontrole cambial que provocou alta de preços dos gêneros de primeira necessidade, afetando o poder de compra de itens essenciais, sobretudo os da alimentação básica. É sabido que um organismo bem alimentado é fundamental para a resistência aos efeitos do vírus. Pode-se dizer, em resumo, que esse preço pago pelos mais vulneráveis socialmente em vidas e sofrimentos é o custo da política irresponsável do governo Bolsonaro de transferir rendas enormes dos pobres para os ricos.