Os juros do Copom e o pensamento de Celso Furtado

Na última semana, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), resolveu interromper um ciclo de dois anos (25 meses) de baixa da taxa básica de juros, materializados em 18 cortes consecutivos. A taxa Selic foi mantida em 11,25%, uma das maiores do mundo.Na decisão tomada por unanimidade de seus membros, o Copom consagrou em comunicado público ''fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária''. A próxima reunião deste colegiado está marcada para o dia 5 de dezembro. A questão, agora, é saber quando será retomada a tendência de queda. Na projeção de juros futuros, antevê-se que a taxa Selic fique assim inalterada até 2008.


 


Em Relatório de Mercado (Focus), que reflete a opinião de analistas do mercado financeiro, um dia antes da decisão do Copom, considerava que havia ainda espaço para uma redução de 0,25% na taxa básica de juros. A inflação interna mostrou sinais de arrefecimento nas últimas semanas, não justificando preocupações por parte da autoridade monetária brasileira. Especula-se, também, em perspectiva, que a reunião do Copom esteve preocupada com a incerteza em relação à profundidade da crise financeira nos Estados Unidos e a disparada dos preços do Petróleo — devido às ameaças de ampliação do conflito armado no Oriente Médio, capitaneado pelos próprios EUA a partir especialmente do Iraque — como sendo razões acolhidas pelo Copom para tomar uma decisão que poderá frear a tentativa do Governo de promover a aceleração do crescimento econômico.


 


O Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, se mostrou ''confiante de que a taxa básica de juros vai voltar a cair'', segundo informou o jornal A Gazeta Mercantil da última sexta feira, sendo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem à África, já havia declarado antes mesmo da decisão do Copom, que se a taxa Selic não continuasse sua trajetória de queda o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, deveria dar explicações ao país.


 


De fato, esta plêiade de diretores do Copom é que dá as cartas em última instância na esfera mais sensível e determinante dos rumos que o Brasil deverá trilhar nos próximos anos em matéria de política econômica com reflexos diretos nas políticas sociais. É bom lembrar, nesta hora, as palavras de uma das últimas manifestações públicas de Celso Furtado, no segundo semestre de 2003: ''Grandes dificuldades enfrentará o Brasil para retomar o processo de desenvolvimento, diante da crise estrutural causada pela perversa articulação das elevadíssimas taxas de juros com a extrema concentração de renda social (…) O primeiro esforço a ser empreendido será o de corrigir a tendência atávica à concentração de renda que tem suas raízes na época colonial (…) Com vista a lograr esse fim (o desenvolvimento), é indispensável que o Brasil adote uma política de baixas taxas de juros (…).'' Este raciocínio de um dos fundadores do pensamento econômico brasileiro, foi exposto durante a abertura do Ciclo de Seminários ''Brasil em Desenvolvimento'', realizado no Instituto de Economia da UFRJ.


 


A questão dos juros, portanto, se reveste de elevado conteúdo político, sendo um problema que deve mobilizar intensamente as forças políticas interessadas em promover o crescimento econômico  com implicação direta na situação das massas trabalhadoras e setores médios da sociedade brasileira.