Os caminhos de Dilma
Publicado 21/02/2010 12:09
O lançamento da pré-candidatura de Dilma Roussef à presidência da República no 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores no último sábado abre uma nova etapa na disputa pela sucessão de Lula, ao introduzir na cena política e eleitoral a peça fundamental – a candidatura que representará a continuidade dos dois governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não que houvesse dúvidas, mas agora Dilma leva a chancela oficial do seu partido. Tanto o presidente como a pré-candidata fizeram questão de afirmar que, se vencer, Dilma governará para garantir a continuidade da obra de Lula. Este não mediu palavras ao dar o recado ao povo que o apoia, ao PT e aos partidos aliados que “eleger a Dilma é uma coisa prioritária para mim”.
Ungida por Lula e consagrada pelo PT, Dilma inicia um longo percurso de renhida luta política, ideológica, de massas e eleitoral propriamente dita. O grau de consciência que tem sobre o desafio está claramente expresso no discurso ao 4º Congresso, em que obviamente não falou apenas aos convencionais petistas mas dirigiu-se ao mundo político como um todo, aos potenciais aliados e ao eleitorado em geral. Aqui começam os caminhos que terá de percorrer.
O primeiro é a definição de seu perfil e de sua estratégia. Com uma mensagem clara, reta e afirmativa, a pré-candidata assumiu com tranquilidade seu perfil de candidata sob a inspiração e liderança de Lula, não deixou dúvidas sobre o seu lado nas grandes disputas políticas que dividem em dois campos a sociedade brasileira e mostrou estar à vontade na condição de candidata a dirigir o terceiro governo democrático-popular. Ao mesmo tempo, Dilma demonstrou personalidade e vôo próprios. Para ela, a continuidade consiste em “avançar, avançar e avançar”. Posiciona-se, desse modo, em sintonia com os anseios amplos e profundos do povo brasileiro, que rejeita o retrocesso e sabe que para que este não ocorra, a condição sine qua non a preencher é dar passos históricos adiante.
O segundo caminho diante da pré-candidata é a conquista dos aliados. Dilma terá que se valer da sua capacidade de interlocução, para além do PT e do Planalto, para conquistar apoios importantes sem os quais será difícil enfrentar a candidatura das forças conservadoras e neoliberais e governar no sentido de promover os avanços que a nação e o povo reclamam. A idéia básica foi lançada, corresponde às exigências do momento e se expressa na palavra coalizão, repetida à exaustão nas declarações do presidente e da candidata. Para concretizá-la e dar-lhe um sentido nitidamente progressista, Dilma precisará do apoio dos comunistas do PCdoB e dos socialistas do PSB, os quais, com o PT e os trabalhistas do PDT, poderão conformar um bloco verdadeiramente de esquerda que se constitua em núcleo propulsor dos pretendidos avanços.
O terceiro caminho é a batalha político-eleitoral propriamente dita, na qual o sujeito principal será o povo. Para mobilizá-lo e convencê-lo, o caminho de Dilma não será apenas mostrar suas inegáveis qualidades de candidata e governante nem somente a sua identificação como candidata do Lula, o que insofismavelmente lhe dá enorme vantagem, mercê do prestígio inconteste do presidente. Este caminho estará na mensagem, nas idéias força do seu programa e discurso. A julgar pelo seu primeiro pronunciamento e pela essência das diretrizes do 4º Congresso – terceiro governo democrático e popular e projeto de desenvolvimento nacional, democrático e popular – os caminhos de Dilma tiveram um bom começo.