Os 70 anos da UNE

No último dia 11 de agosto a União Nacional dos Estudantes (UNE) completou 70 anos de vida como uma das principais organizações da sociedade civil brasileira. Nesta trajetória histórica, consolidou-se como um baluarte de lutas e conquistas ao lado do povo brasileiro.


 


A UNE foi fundada em 1937 e ao longo de suas 7 décadas de existência marcou presença nos principais acontecimentos políticos, sociais e culturais do Brasil. Desde a luta pelo fim da ditadura do Estado Novo, atravessando a batalha pelo desenvolvimento nacional, a exemplo da campanha do Petróleo, os anos de chumbo do regime militar, as Diretas Já e o impeachment do presidente Collor. Da mesma forma, foi um dos principais focos de resistência às privatizações e ao neoliberalismo que marcou a Era FHC, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


 



No dia 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil no Rio de Janeiro, o então Conselho Nacional de Estudantes conseguiu consolidar o que já havia sido tentado diversas vezes sem sucesso: a unificação dos estudantes na criação de uma entidade máxima e legítima. Desde então, a UNE começou a se organizar em congressos anuais e a buscar articulação com outras forças progressistas da sociedade. Com este caráter unitário e amplo a UNE dá um exemplo extraordinário a todo o movimento social brasileiro como uma organização forte e de luta em defesa de suas bandeiras específicas e também das reivindicações mais gerais de todo o povo.


 



Como a própria UNE faz questão de se proclamar, a entidade já nasceu como uma das principais frentes de combate ao avanço das idéias nazi-fascistas no país durante a Segunda Guerra Mundial. Os estudantes organizados também promoveram, em 1947, um dos mais importantes movimentos de opinião pública da história brasileira: a campanha “O Petróleo é nosso”, uma série de manifestações de cunho nacionalista em defesa do patrimônio territorial e econômico do país, que resultou na criação da Petrobrás.


 



A partir do golpe de 1964, tem início o regime militar e a história da UNE se confunde ainda de forma mais dramática com a do Brasil. A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de brasileiros, muitos deles estudantes. A sede da UNE na praia do Flamengo foi invadida, saqueada e queimada no dia 1º de Abril. O regime militar retirou a representatividade da UNE por meio da Lei Suplicy de Lacerda e a entidade passou a atuar na ilegalidade. As universidades eram vigiadas, intelectuais e artistas reprimidos, o Brasil escurecia.


 



Apesar da repressão, a UNE continuou a existir nas sombras da ditadura, em firme oposição ao regime, como célebre passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro em 1968. A entidade foi profundamente abalada depois da instituição do AI-5 e das prisões do congresso de Ibiúna. Mesmo assim, o movimento estudantil continuou nas ruas, como nos atos e missa de 7º dia do estudante da USP, Alexandre Vannucchi Leme, e organizando protestos por todo o Brasil reivindicando mais recursos para a universidade, defesa do ensino público e gratuito, pedindo a libertação de estudantes presos do Brasil. Em 1979, a partir da precária reorganização da UEE-SP, iniciou-se a reconstrução da UNE no célebre Congresso de Salvador. Em 1984, a UNE participou ativamente da Campanha das “Diretas Já” e apoiou a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República.


 



Com a força recuperada, o movimento estudantil, representado pela UNE e pela UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), foi o primeiro a levantar a bandeira pela ética na política em 1992, durante as manifestações pró-impeachment de Fernando Collor. Milhares de estudantes “caras-pintadas” influenciaram a opinião pública com a campanha “Fora Collor” e pressionaram o ex-presidente à renúncia.
Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a União Nacional dos Estudantes se manteve firme e denunciou o ataque neoliberal ao país, repudiando as privatizações, os privilégios ao capital estrangeiro e o descaso com as políticas sociais e com a educação. Os estudantes tiveram papel marcante nos anos FHC sempre defendendo o ensino público de qualidade e democrático.


 



A eleição de Lula em 2002 teve o apoio da União Nacional dos Estudantes, após um plebiscito promovido das universidades. Com uma postura independente, mas alinhada às iniciativas de mudança em relação ao neoliberalismo. Desde o início do governo, a entidade se mobilizou por um novo modelo de avaliação das universidades e levantou os debates sobre a reforma universitária, participando ativamente no debate do projeto sobre os rumos da universidade brasileira, e ainda, de punhos erguidos para alterar a cara de nossas universidades: investindo da educação pública e regulando o setor privado. Nesta semana a nova presidente da entidade, a estudante Lúcia Stumpf apresentou, ao lado de outros diretores, o programa de lutas da UNE. Lúcia já marcou, para a semana que vai de 20 a 24 deste mês, o início do que chama de “jornada de luta”: passeatas e ocupações a reitorias para pressionar o governo a regulamentar o ensino privado e a melhorar o orçamento das universidades públicas. No dia 22, uma passeata unificada com movimentos sociais espera tomar conta de todo o país.