Obama provoca a China

Para que serve o mito da não violência do dalai lama? Para o presidente dos EUA, Barack Obama, aparentemente, serve para enfrentar suas dificuldades internas e a crescente oposição a seu governo. E também para demonstrar preocupação com os sinais de declínio do poder americano no mundo e com a ascensão chinesa ao primeiro plano das relações internacionais.

Washington tomou precauções simbólicas em relação a esta visita, tentando sinalizar que reduzia seu alcance – o dalai lama foi recebido como líder religioso. Mesmo assim, há um simbolismo maior: ele vende a imagem internacionalmente de líder do Tibete, na verdade um provocador do separatismo. Com esse fim, mobiliza setores da opinião pública que, por razões ideológicas ou simples desconhecimento, vêem nele um campeão da luta contra a “opressão nacional” de seu país.

Na verdade, o dalai lama, conforme a conjuntura, é usado como instrumento de provocação dos Estados Unidos à China. A subordinação do dalai lama à política dos EUA não é recente. Durante dez anos, depois da revolução de 1949, ele foi uma personalidade de destaque na China Popular e, como deputado Constituinte, foi signatário da Constituição chinesa.

As coisas começaram a mudar no final da década de 1950, quando a modernização começou a chegar ao Tibete que era, até então, domínio inconteste da oligarquia feudal comandada pelo dalai lama. A casta sacerdotal corrupta e violenta – o historiador italiano Domenico Losurdo comparou-a à família florentina dos Bórgia – era dona do país, senhora de vida e morte sobre a imensa maioria da população que, em pleno século 20, era constituída de servos escravizados por aquela aristocracia, que eram explorados em padrões medievais.

A interferência dos EUA na região cresceu com a guerra da Coréia, em 1950, e a CIA passou a fomentar operações paramilitares e a chamada “guerra psicológica” para criar dificuldades ao governo de Mao Tse Tung.

O dalai lama foi então o chefe militar de uma tentativa de rebelião da casta sacerdotal em 1959, apoiada e armada pelos EUA, e derrotada com a ampla participação do povo tibetano. Os cabeças do levante palaciano fugiram para a Índia com o dalai lama à frente quem desde então, e com apoio dos EUA (e da CIA), proclama-se chefe de estado tibetano no exílio.

Começou então a nascer o mito do pacifismo do dalai lama. A propaganda dos EUA passou a difundir a não-violência do budismo tibetano e do dalai lama, contraposta à “violência” da expansão comunista. Aquele “pacifista” é assim, há mais de meio século, instrumento da política externa dos EUA e seus serviços de espionagem em atentados contra a unidade territorial e a soberania nacional chinesa.

A recepção do dalai lama por Barack Obama é uma provocação à China Popular.

A reunião entre Obama e o dalai lama faz parte da recente escalada americana contra a China, e que envolve a anunciada venda de armas à província de Taiwan, que não reconhece o governo de Pequim, e as pressões para que o Google opere sem restrições na China. Tudo isso num ambiente de pressões econômicas para impor à China medidas nocivas à economia do país mas que favorecem os interesses dos EUA.

A reação do governo de Pequim contra a reunião ocorrida em Washington foi firme. Hoje (19), o governo chinês convocou o embaixador dos EUA para protestar e exigir explicações oficiais. "Os EUA”, disse o Ministério de Assuntos Exteriores chinês, “devem deixar de interferir nos assuntos internos da China e adotar medidas concretas para manter o crescimento são e contínuo das relações".

O biombo da questão religiosa é frágil, como destaca a reação chinesa. Ele esconde dois objetivos complementares – o atentado contra a soberania nacional da China e também o projeto de restauração do poder aristocrático e escravocrata da casta sacerdotal no Tibete sob a liderança do falso campeão da autonomia tibetana, o dalai lama. Trata-se da união da minoria tibetana reacionária e violenta com o imperialismo, que precisa ser desmascarada e denunciada.