O significado da interinidade de Aldo Rebelo na presidência da República

Entre o final da tarde do dia 12 de novembro de 2006 e a noite do dia seguinte, o Brasil terá no exercício interino da presidência da República, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, uma das destacadas lideranças do Partido Comunista do Brasil. Este fato inédito, um comunista na presidência da República, tem um positivo significado político e não é, ao contrário do que possa parecer, uma mera obra do acaso.



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transmitiu o cargo ao presidente da Câmara dos Deputados, no final da tarde do dia 12, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Este acontecimento poderia ser encarado, tão somente, como uma solenidade normal num Estado de direito em que se respeita a Constituição, diante do impedimento do vice-presidente, José de Alencar, em viagem aos Estados Unidos para um tratamento de saúde.



Entretanto, trata-se de um fato inusitado na ainda nascente democracia brasileira. ''As lutas e a dedicação de muitas gerações de brasileiros para conquistar a democracia e a liberdade possibilitaram chegar a um momento como este. E hoje pode alguém do Partido Comunista, mesmo que momentaneamente, chegar à Presidência da República num momento de normalidade, de tolerância, de respeito e de convivência democrática'' declarou Aldo à imprensa antes de assumir o cargo, no embarque de Lula à Venezuela.



Aldo, aproveitou a ocasião também para lembrar que Marx e Engels ''conseguiram fundamentar para muitas gerações o ideal da democracia, da liberdade, da independência das nações. Outros que também deram suas contribuições – e não são necessariamente marxistas – são lutadores como Simon Bolívar, na América Latina, e Lincoln, nos Estados Unidos''. Disse ainda que lembrará, neste breve exercício do posto político máximo do país, igualmente '' daqueles que lutaram pela independência, pela República, como Tiradentes, José Bonifácio, Frei Caneca, Luís Carlos Prestes, João Amazonas, Getúlio Vargas, Floriano Peixoto, Juscelino Kubitschek. Muita gente lutou para que fôssemos um país onde todos se respeitam.''



Renato Rabelo, presidente do PCdoB, desvenda o inusitado deste  acontecimento apontando- o como algo derivado do novo ciclo político que o país passou a viver desde a vitória de Lula em 2002:'' O PCdoB tem reafirmado a idéia de que com a eleição de Lula em 2002, o Brasil passa a viver um novo ciclo político em sua história. Novas forças democráticas e progressistas assumem responsabilidades extraordinárias no governo de nosso país. E nestas últimas eleições, este fenômeno se acentuou, com a reeleição de Lula por um lado e por outro a derrocada de velhas oligarquias em vários estados da federação. Este fato inédito de um comunista, o presidente da Câmara dos Deputados, ter assumido interinamente a presidência da República é parte deste movimento, deste novo ciclo político que estamos vivendo.'' Disse o presidente do PCdoB ao Vermelho.


 


Não se trata, pois, de um acontecimento fortuito ou de um mero capricho do acaso. Ele é resultante das contribuições do Partido Comunista do Brasil, em 85 anos de existência, à edificação do Brasil enquanto país soberano, democrático e de justiça social . Ele decorre da presença ativa e fecunda dos comunistas nas lutas pela conquista da democracia e do esforço contínuo para preservá-la e ampliá-la. Decorre, também, do protagonismo do PCdoB em todas as campanhas de Lula à presidência e do seu esforço pelo êxito de seu governo. Aldo é uma das lideranças do PCdoB, que personifica esse histórico e esse legado dos comunistas.



O que é casual é que a posse interina de Aldo Rebelo na presidência da República aconteça justamente quando PCdoB e outras legendas estão na iminência de sofrer os termos restritivos da cláusula de barreira. Esta ''providencial'' coincidência poderá alertar as forças democráticas e a opinião pública de que essa cláusula é uma mancha autoritária neste novo e promissor ciclo democrático que se descortina em nosso país.