O Riquistão, um país paralelo aos EUA

Uma nova casta social toma forma nos Estados Unidos. São os mega-ricos. Vivem isolados do resto dos estadunidenses, em mansões de US$ 100 milhões para cima, clubes exclusivos, jatinhos privados, e se queixam da fila de espera para comprar iates de alto luxo.



Eles formam o Riquistão (em inglês, Richistan), título de um recente livro de Robert Frank, que mantém uma coluna especializada no tema no Wall Street Journal. Ele relata o porquê do livro e do título: ''Os ricos não estavam apenas ficando mais ricos; eles estavam formando o seu próprio país paralelo''.



Franck explica também a oportunidade do lançamento: ''O número de famílias milionárias, em todos os níveis (US$ 1 milhão, US$ 10 milhões, US$ 100 milhões) mais do que dobrou na década passada''. A emergência é de tal porte que a primeira categoria, dos simplesmente milionário, não garante o visto de entrada para o Riquistão: só de US$ 10 milhões para cima.



Os estadunidenses bilionários, em 1985, eram apenas 13; em 2003, passavam de mil. O 1% mais rico da população soma uma fortuna de US$ 17 trilhões, uma vez e meia o PIB do país.



Os EUA são conhecidos como o país desenvolvido com uma maior disparidade de renda, mas esta não é uma realidade estática. E a curva do índice de Gini, que retrata a desigualdade, está subindo.



No século passado, a desigualdade estadunidense foi num crescendo até a Grande Crise de 1929. Baixou em seguida, nos anos do New Deal, e no fim dos anos 60 chegou no seu ponto mais baixo. Mas depois a desigualdade voltou a crescer, sobretudo a partir da década passada e mais ainda no governo de George W. Bush, o presidente dos sonhos do Riquistão.



O correspondente da Folha de S.Paulo em Washington, Sérgio d'Ávila, publicou neste domingo alguns dados do Relatório da Riqueza – nome da coluna e também do blog de Frank. Ele cita também uma pesquisa do  Instituto Pew, deste mês: 73% dos cidadãos americanos ouvidos concordam que ''os ricos ficam mais ricos, enquanto os pobres ficam mais pobres''.



No pólo oposto ao Riquistão, está a working class (classe trabalhadora), estão as minorias negra, latino-americana e outras, a grande massa dos imigrantes – entre os quais a colônia brasileira – e os que se alistam nas forças armadas, para matar e morrer no Iraque e no Afeganistão.



O Riquistão não conheceu a recessão de 2001 e nem a desaceleração atual da economia estadunidense. Continua cada vez mais vertiginosamente opulento. Mas também no interior da sociedade dos Estados Unidos as disparidades de classe produzem contradições e lutas de classes.



Esta é a base real das correntes progressistas, que existem e atuam nos EUA. Elas são aliadas naturais dos povos em luta contra o domínio do império estadunidense, império que, no fundo, representa os interesses do Riquistão.