O rei da mídia está nu

Entre as muitas questões em jogo nesta véspera de segundo governo Lula, destaca-se a dos meios de comunicação. Na crise política de 2005 e na campanha eleitoral de 2006, o país comprovou que a mídia dominante obedece a um pensamento único, afinado com o bloco social e político conservador hoje na oposição.


 


Contados os votos de outubro, aferiu-se que mais de 60% dos brasileiros não comungam com essa unanimidade. É como se as urnas, imitando o menino do conto de Andersen, apontassem os barões da mídia dominante e proclamassem que estão nus, apesar de toda a sua empáfia e fanfarronice.


 


A insurreição da opinião pública contra os autoproclamados formadores de opinião pública tornou-se objeto de estudo de sociólogos e politicólogos. E gera um visível tensionamento: o povo brasileiro não gosta da mídia que tem — assim como, para quem sabe ler nas entrelinhas, a mídia brasileira não gosta do povo que tem.


 


No último sábado (11), o documento aprovado pela 5ª Plenária Nacional da CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) colocou sem rodeios o ponto de vista da CUT, MST, UNE, Ubes e outras representações do ponto de vista popular: ''Precisamos acabar com o criminoso monopólio da mídia que impõe a agenda da elite neoliberal derrotada nas eleições à imensa maioria do povo'', afirma.


 


A denúncia é contundente e tem bons motivos para sê-lo. Não se conhece outro país assim: com um presidente eleito e reeleito pela maioria absoluta dos seus concidadãos tendo contra si a unanimidade da mídia dominante. É um monopólio de fato. Talvez não um crime, stricto senso, mas com certeza uma aberração.


 


Este portal do galo, que insiste em desafinar do pensamento único midiático, tem crescido principalmente devido ao vácuo de idéias que a situação aberrante produz. No mês passado, alcançou 429 mil visitantes individuais (single visitors), 862 mil visitas e 3,45 milhões de páginas visitadas (page views).


 


A alegria e o orgulho justificados por tal resultado não nos impede de constatar que não será pela progressão paulatina destes números que se corrigirá a aberração. Até porque não é só o Vermelho, mas todo um arco-íris de concepções, interesses e programas progressistas que se vê excluído da e combatido pela mídia dominante.


 


A frente de forças sociais, históricas e políticas que produziu a eleição e a reeleição de Lula tem a obrigação de construir a sua mídia. Mídia alternativa por contraditar a dominante, mas grande, presente na esferas das TV e do rádio, dos jornais e revistas, assim como da internet, capaz de disputar a luta de idéias em pé de igualdade. Mídia que não se confunda com o governo Lula, nem dele dependa, livre e autônoma como o são os movimentos sociais, mas disposta a defender o governo junto com o povo contra o jogral oposicionista-midiático.


 


Não será tarefa fácil. Também os barões da mídia dominante se apercebem de que estão nus em praça pública desde o 29 de outubro. Sua primeira reação, furibunda e mais uma vez em ordem unida, prenuncia a sanha com que defenderão seu monopólio. Mas este há de cair, necessariamente, pois só sobrevive às custas de calar a maioria social e política da nação. E a tarefa estratégica de quebrá-lo tornará o Brasil mais democrático, mais plural, mais verdadeiro.