O PCC e o jogo sujo do PSDB


Desesperadas com o aumento do prestígio do presidente Lula, que na última pesquisa Datafolha bateu o recorde de avaliação positiva dos últimos governos no país (56% contra 47% na sondagem mais favorável a FHC), a direita neoliberal e a mídia hegemônica decidiram baixar de vez o nível da disputa presidencial deste ano.


 


Primeiro foi a asquerosa revista Veja que publicou uma curta nota na qual afirmava, de maneira leviana, que gravações telefônicas revelariam “a evidente simpatia do PCC pelo PT, bem como a aversão da organização pelo PSDB”. Agora, foi a vez do jornal Folha de S.Paulo, o mesmo que cedeu suas peruas para o transporte de presos políticos no período da ditadura, fazer estardalhaço com esta denúncia vazia.


 


A manipulação é grosseira e lembra o sinistro caso do seqüestro do empresário Abílio Diniz, em 1989, na reta final da acirrada disputa presidencial entre Collor de Mello e Lula, quando os responsáveis pela ação surgiram na televisão vestidos com camisetas do PT. Pouco depois, soube-se que a polícia havia montado a cena para prejudicar o candidato petista. Até hoje a mídia criminosa não se desculpou por aquela falsa notícia. Agora, a própria reportagem revela, sem tirar as conseqüências, que as escutas telefônicas entre os líderes do PCC foram requeridas pelo secretário de Segurança de ex-governador Alckmin, o fascistóide Saulo de Castro Abreu, contra quem pesam denúncias de maus-tratos aos presos, pela chacina de detentos numa rodovia paulista e por desacato numa audiência na Assembléia Legislativa de São Paulo.


 


A criminosa irresponsabilidade do jornal é tamanha que ele mesmo toma algumas precauções para evitar futuros processos na Justiça. A reportagem apresenta depoimentos, todos entre aspas, em que delegados da polícia entrevistados chegam a confessar que “o grampo com a ordem dos homens do PCC para ‘matar todos os políticos, menos os do PT’ seria mantido em segredo até as vésperas das eleições de outubro. As gravações, ainda segundo esses policiais, serviriam como uma espécie de ‘carta na manga’ para as candidaturas tucanas de Geraldo Alckmin e José Serra. Elas seriam usadas pelo partido, de acordo com os policiais, no caso destas candidaturas sofrerem desgastes por conta da crise na segurança pública”.


 


Apesar destes reparos, que revelam o que está por detrás desta sujeira, o veículo da dinastia Frias preferiu dar chamada de capa, ser cúmplice da trama tucana e amplificar pretensas gravações com notórios chefes do crime organizado. O jornal evitou contextualizar o episódio, o que indicaria a revolta dos presidiários contra a barbárie existente nas penitenciárias e seu compreensível ódio aos carrascos comandados por Saulo de Castro; também não se deu ao trabalho de verificar a autenticidade das fitas; e nem sequer denunciou o conhecido acordo firmado entre o governo e o PCC quando da primeira onda de violência, em meados do maio.


 


A atitude da Folha, que fere a ética jornalística e os próprios preceitos legais unicamente para servir de palanque para o candidato da direita, mereceria a urgente abertura de processos na Justiça e o repúdio da sociedade, inclusive dos jornalistas que ainda prezam a profissão.