O Oriente veio aos trópicos

A agenda diversificada e rica de comemorações do centenário da imigração japonesa, por si, revela uma singularidade positiva do Brasil. Aqui se festeja e se celebra a presença e participação de povos de outros continentes na construção da riqueza material e imaterial do país e na própria formação do povo brasileiro. O que em outros países é motivo de tensões e ressentimentos, aqui é motivo de festa.



É claro que a saga dos imigrantes que aportaram no país (italianos, alemães, espanhóis, portugueses, japoneses, árabes e outros) não se deu como um conto de fadas. Logo, na chegada, constatavam a falácia das promessas das empresas que os traziam. Oprimidos nas suas pátrias, novamente, oprimidos na terra adotiva. O desafio da adaptação, o idioma, a cultura, a culinária, tudo por aprender sob a super- exploração a que eram submetidos. Não é demais lembrar que os imigrantes começam  a chegar depois da abolição da escravatura. A missão deles era substituir os escravos.



Mas, o próprio povo brasileiro com quais as ondas de imigrantes passou a viver e conviver fora produto da miscigenação de brancos, índios e negros, num processo contraditório e violento. O anfitrião, também, não nascera de um conto mágico. Esse povo novo, uno e mestiço que se formou na região dos trópicos, embora não imune ao racismo, repeliu o ódio racial de setores de suas elites e desenvolveu uma subjetividade que valoriza o acolhimento de outros povos. Em vez da rejeição, tem uma atitude de tolerância e uma gana para trocar valores culturais.



Hoje, os descendentes de europeus, árabes e asiáticos, se proclamam e se orgulham de serem brasileiros e cultivam a identidades culturais dos países de seus ancestrais.



Cada grupo de outras nacionalidades que foi transferido para nosso país tem sua história própria. Os japoneses que começaram chegar em 1908, grande parte era trabalhadores sem terra na pátria natal, demonstraram fibra, coragem e souberam vencer os desafios da adaptação nos trópicos.



Enfrentaram o racismo de setores da elite do país que consideravam a ''raça amarela'' como inferior. Outros afirmavam que os nipônicos comparativamente a outros povos eram de difícil assimilação. No seu livro Raça e Assimilação (1932) Oliveira Vianna cometeu o disparate de compará-los ao ''enxofre'', ''por ser insolúvel''. Durante a Segunda Grande Guerra chegaram a ser segregados.



Mas, os adeptos do arianismo, da xenofobia, da intolerância foram derrotados, embora suas idéias não tenham desaparecido. De todo modo, o que triunfou, o que venceu, é isso que, hoje, se festeja e se comemora.  O povo mestiço, novo e uno, que acolhe e valoriza todos os povos que contribuíram e contribuem para seu enriquecimento material e cultural. O aporte singular dos imigrantes japoneses merece plenamente as comemorações e o agradecimento do povo brasileiro, que os acolheu e do qual passaram a fazer parte.