O hidrelétrica do Equador e a cratera do metrô paulista

A sanha ''subimperialista'' de setores empresariais e da grande mídia brasileira voltou a mostrar as garras, agora contra o Equador. ''Está na hora de perder a paciência'', pregou o editorial de O Estado de S. Paulo de 26 de setembro. O jornalão paulista repetiu o tom de manifestações semelhantes em outros órgãos da grande mídia e de entidades patronais brasileiras, costumados a rosnar contra os pequenos, e principalmente contra qualquer esforço para fortalecer a integração sul americana e as relações soberanas entre os países da região.


 


O editorial de O Estado de S. Paulo é um primor e confirma, mais uma vez, a velha constatação, feita por Karl Marx já no Manifesto Comunista de 1848, de que o Estado é o comite gestor dos negócios da burguesia. Ele considera que há ''excessiva tolerância do governo petista aos abusos cometidos por governos populistas da região contra empresas e interesses brasileiros'', diz que ''Lula não foi eleito para isso'', e que cabe ao presidente brasileiro – isto é, ao governo de nosso país – ''zelar, em primeiro lugar, pelo interesse nacional, exigindo que o Brasil seja respeitado de fato pelos países vizinhos. Hoje, os populistas que controlam os países da vizinhança vêem o Brasil como um gigante de pés de barros, que pode se desafiado à vontade pois tem uma paciência inesgotável para aceitar desaforos e tolerar esbulhos''.


 


Confunde, assim, os interesses de grandes empresas brasileiras com os interesses nacionais e esquece, convenientemente, o dogma apregoado por periódicos e propagandistas dos interesses das empresas, segundo o qual os contratos devem ser cumpridos. Mas não esclarece que esta exigência se aplica à defesa dos interesses empresariais…


 


As grandes construtoras brasileiras, que engordaram durante o regime militar de 1964 com a construção de estradas, hidrelétricas e outras grandes obras públicas de engenharia, parecem ter-se acostumado a um certo beneplático dos governos, típico das ditaduras. E de governos complacentes. A Odebrecht, por exemplo, faz parte do consórcio responsável pela construção da Linha 4 do metrô de São Paulo, onde ocorreu a tragédia de janeiro de 2007: a abertura de uma cratera onde morreram sete pessoas, e que provocou o atraso da obra. E contesta, na Justiça, sua esponsabilidade pelo desastre.


 


Há uma ligação entre o acidente do Linha 4 do metrô de São Paulo e os defeitos da hidrelétrica equatoriana: o engenheiro Fábio Gandolfo, um dos executivos da Odebrecht retidos no Equador. Em 2007, era ele quem dirigia a obra onde houve a tragédia, em São Paulo. Depois do acidente, ele (que trabalha na Odebrecht há vinte anos) foi promovido a chefe das operações no Equador, onde está desde junho de 2007.


 


A ação do governo do Equador mostrou que, como registrou neste portal o jornalista Fernando Damasceno, ''não há mais espaço nas relações político-econômicas para empresas multinacionais entrarem em outros países, executarem serviços de baixa qualidade e nada ser feito contra tais ações. O que deve ser buscado em pleno século 21 é um procedimento simples e perfeitamente cabível a qualquer nação soberana: serviços bem feitos devem pagos corretamente; descumprimento de contratos devem ser resolvidos judicialmente, e não a partir de pressões e gritaria via imprensa''.