O golpe em Honduras veio para ficar?

O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, deposto por um golpe militar no último dia 28 de junho, esteve esta semana no Brasil, onde reuniu-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com lideranças do Congresso Nacional. Durante a visita, Lula reafirmou a Zelaya a posição da diplomacia brasileira de firme condenação ao golpe militar e apoio incondicional à restauração da democracia em Honduras, com a volta do presidente eleito ao poder.

A recepção calorosa que Zelaya recebeu no Brasil e em vários outros países onde já esteve desde que foi afastado da presidência de seu país, mostra que os golpistas hondurenhos estão diplomaticamente isolados. Mas a solidariedade da América Latina e de importantes organismos internacionais como a OEA, Alba e ONU, ainda não é suficiente para trazer de volta a democracia a Honduras.

Resgatar Honduras das mãos dos golpistas é uma tarefa que vai exigir um passo a mais, que precisará ser dado principalmente pelos Estados Unidos, sobre o qual pesam graves suspeitas de participação direta no golpe hondurenho.

O próprio presidente deposto, Manuel Zelaya, abordou a questão durante sua estada no Brasil. Segundo ele, é preciso traçar uma estratégia para que as medidas contra o regime golpista sejam mais enérgicas, tanto as adotadas pela América Latina, quanto pelos Estados Unidos, país que mantém uma relação especial com Honduras, sendo responsável, direta ou indiretamente, por cerca de 70% das atividades econômicas, culturais, militares e políticas daquele país, segundo informou o próprio Zelaya. "Reconhecemos o esforço americano, mas achamos que suas ações foram mornas demais e não são suficientes", declarou o líder
hondurenho à Agência Brasil.

O agravante do golpe em Honduras é que a quebra da ordem institucional veio acompanhada dos seus costumeiros malefícios, como as violações dos direitos humanos, das liberdades civis e da liberdade de expressão, brutalmente vilipendiados pelos gorilas militares, pela mídia golpista e pela oligarquia usurpadora que tomou o poder.

O Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos de Honduras (Cofadeh) já contabiliza nove assassinatos, alguns deles cometidos por militares disfarçados de civis, grande quantidade de ameaças de morte diretas, 2.702 detenções ilegais e outras 1.155 violações aos direitos humanos. E a mídia hegemônica, que ajudou a promover o golpe, não apenas cala-se diante destes crimes como também tenta convencer a população com os argumentos flácidos dos golpistas acerca de um suposto "perigo comunista" que Zelaya representaria.

O problema de Honduras não afeta apenas aquele pequeno e pobre país centro-americano, que tem população e território quase equivalentes ao do estado do Ceará. É um problema de toda a América Latina. O continente está vivenciando uma "onda progressista" histórica, com quase uma dezena de governos com orientação política progressista e antiimperialista. Já há quem avalie que o retrocesso democrático de Honduras pode ser uma sinalização de que este avanço na região está em perigo.

Neste sentido, a vacilação da diplomacia norte-americana cria, com razão, motivos para se suspeitar da política externa do governo Obama em relação à América Latina. Por enquanto, o golpe hondurenho está sendo debitado na conta de Obama. Resta saber se seu governo terá força e vontade política suficiente para resgatar esta dívida com os povos latino-americanos.