No FSM de Nairobi o mundo abre os olhos para a África

Com 46 mil pessoas efetivamente inscritas até domingo (21), a 7ª edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Nairobi, Quênia, ajuda a abrir os olhos dos movimentos populares para a África. Isto vale para o mundo e vale muito especialmente para o Brasil.


 


Os brasileiros resistimos um pouco quando assistimos o Fórum que nasceu e se criou em Porto Alegre levantar vôo em direção a outras terras, indianas, venezuelanas, agora quenianas. Em boa hora nos curvamos aos argumentos da generosidade internacionalista, único ponto-de-vista coerente para o evento do “um novo mundo é possível”.


 


Decorridos três anos, comprova-se a correção da iniciativa. Ao por-se a peregrinar, o FSM reforçou a sua vocação para a pluralidade, de movimentos participantes, de linguagens, óticas e bandeiras de luta específicas. Avançou também na sua marcha, árdua, controvertida, mas incessante, para assumir-se enquanto, mais que uma feira livre de idéias, também uma articulação política do antiimperialismo no planeta.


 


Com Nairobi, a África passa a ocupar aí um espaço no FSM que nem de longe ocupava — apesar do sucesso da iniciativa pioneira mas ainda limitada de Bamako em 2006. Passa a se ver e a ser vista com novos olhos, mais argutos, menos esteriotipados, menos, por que não dizer, preconceituosos.


 


As razões deste novo olhar não são retóricas ou sentimentais. O segundo maior continente do mundo em população vive imensos problemas, alguns partilhados pelo resto do planeta, outros comuns às nações do Sul, todos com suas manifestações especificamente africanas. Mas a África é também um cadinho de lutas para superá-los.


 


Nós, latino-americanos, que vivemos nos últimos anos uma maré de sentido político progressista, devíamos atentar por exemplo para o movimento mais antigo e em certo sentido aparentado que acontece em boa parte do continente africano. Em toda a região ao sul do Congo Kinshasa, um conjunto de países é governado pelos herdeiros das guerrilhas anticoloniais da geração passada, e projeta figuras da estatura de Nelson Madela.


 


É, como o nosso, um processo desigual, heterogêneo, contraditório. Mas apesar dos pesares, aos trancos e barrancos, avança, como o nosso.


 


O movimento popular e as forças avançadas do Brasil possuem motivos especialíssimos para levar a sério com consistência e permanência a aproximação com a África que o Fórum de Nairobi enseja. Não é só o sangue, a língua e a história que nos aproximam, é toda uma agenda atual que vai da cultura à política.


 


Esta agenda possui sua vertente estatal e institucional, simbolizada pelas seis viagens à África que o presidente fez à África em quatro anos (todas sob os apupos da mídia dominante de cabeça colonizada). Mas tem também sua vertente de povo para povo, que o 7º FSM tem tudo para impulsionar.


 


Quatro centenas de brasileiros cruzaram o Atlântico para o Fórum de Nairobi. Que no seu retorno cultivem estes laços, perseverantemente, como uma coisa importante, que nos ajuda e fortalece a todos, e ganha relevo ainda maior por serem laços que as elites rejeitam.