Não existe impeachment sem a frente ampla

A luta pelo impeachment de Jair Bolsonaro – que desde maio contabilizou cinco grandes atos nacionais da Campanha #ForaBolsonaro – avançou neste domingo (12/9). As manifestações contra o presidente realizadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre), em parceria com o VPR (Vem pra Rua), levaram novos atores às ruas – incluindo partidos e lideranças que, em 2018, defenderam o voto no capitão de extrema-direita. A base bolsonarista murchou um pouco mais.

É válido o esforço de uma e outra iniciativa para ampliar adesões, embora ainda haja margem para que ambas cresçam. A Campanha #ForaBolsonaro, composta pelas Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, além do Fórum das Centrais Sindicais, mobilizou mais pessoas por ato, em média, do que a atividade do MBL. A última rodada de manifestações, no 7 de Setembro, registrou um recuo geral no público, em parte pelo receio de confrontos entre lados antagônicos, já que foi na mesma data dos atos golpistas pró-Bolsonaro.

Ainda assim, sobressai o fato de que esses protestos, mais “vermelhos” por tradição, devido à participação predominante de partidos e entidades de esquerda, têm ficado mais coloridos, mais plurais, em nome da frente ampla. Aos poucos, o vermelho vai dividindo companhia com o verde-amarelo e mais cores, tal qual em outras campanhas de impeachment. Hegemônicas no movimento popular “Fora Collor” (1992), mas usurpadas pela direita no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (2015-2016), as cores da bandeira brasileira estarão cada vez mais presentes nos atos da Campanha #ForaBolsonaro.

Já neste 12 de setembro, com o MBL à frente, organizadores reconheceram que o público ficou aquém do esperado, mesmo na Avenida Paulista, em São Paulo. Porém, houve um êxito político incontestável: foi o mais representativo dos protestos anti-Bolsonaro. O palanque do MBL reuniu lideranças de 11 partidos, dos mais diversos espectros político-ideológicos (Cidadania, DEM, MDB, Novo, Patriota, PCdoB, PDT, PL, PSDB, PSL e PSOL).

Nomes cotados para a disputa presidencial de 2022 estiveram lá – caso do governador João Doria (PSDB-SP), da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e dos ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM). Além disso, parlamentares de esquerda e de direita partilharam o caminhão-de-som – falaram desde Orlando Silva (PCdoB-SP) e Isa Penna (PSOL-SP) até Kim Kataguiri (DEM-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Arthur do Val (Patriota-SP).

“Nós estamos aqui pelo direito à diversidade, à pluralidade de todas as opiniões. Estou muito feliz de estar na Paulista com tanta gente nova”, discursou Orlando Silva. “Não importa se minha opinião sobre economia ou privatização é diferente de quem está aqui. O que importa é que eu e todos aqui defendemos a democracia.”

Em outra demonstração da amplitude, marcaram presença na Paulista, no domingo, tanto representações dos trabalhadores quanto dos empresários. Lá estavam dirigentes de cinco das seis maiores centrais sindicais do País – CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Força Sindical, NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores) e UGT (União Geral dos Trabalhadores).

Do lado empresarial, conforme destacou a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, “alguns pesos pesados do PIB brasileiro voltaram para a rua pela primeira vez desde os protestos a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”. Foi o caso de Horácio Lafer Piva, José Olympio Pereira, Fábio Barbosa e Antônio Moreira Salles. “Se o setor privado não enxerga que é importante lutar pela democracia, pelo menos deveria entender que, sem democracia, nossos negócios valem menos”, resumiu à Folha a investidora Lucia Hauptman.

É uma unidade pontual – e, no entanto, imprescindível, urgente. Em 2 de outubro de 2022, mais de 148 milhões de brasileiros devem voltar às urnas para eleger o próximo presidente da República. Na disputa pelo voto, esquerda e direita vão apresentar candidaturas próprias, ter projetos divergentes e protagonizar mais uma batalha eleitoral. O PCdoB, por exemplo, tem aproveitado as etapas preparatórias de seu 15º Congresso para debater uma “Plataforma Emergencial de Reconstrução Nacional”.

Mas não existe impeachment sem a frente ampla. A união de forças em torno do #ForaBolsonaro é necessária, antes de tudo, por reforçar a pressão para que o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), acolha qualquer um dos 137 pedidos de impeachment já protocolados contra Bolsonaro. Caso Lira abra o processo, serão necessários pelo menos dois terços dos votos (342) dos deputados. Hoje, PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB e Rede, juntos, não chegam a 140.

Simbolicamente, o 12 de Setembro também deixa um aceno em defesa do diálogo e da convivência democrática. Assim como setores progressistas resistem até a conversar com adversários em nome de uma causa maior, o Vem pra Rua, o Livres e o Partido Novo insistem nos ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse sentido, vale ressaltar que o MBL aceitou flexionar sua palavra-de-ordem e cumpriu o acordo, trocando o “Nem Bolsonaro, nem Lula” pelo “Fora, Bolsonaro”.

A Campanha #ForaBolsonaro chamou para 2 de outubro o sexto grande ato nacional contra o presidente. Antes, nesta quarta-feira (15), o movimento Direitos Já! Fórum pela Democracia promove um encontro pró-impeachment em São Paulo com representantes de 15 partidos (Cidadania, DEM, MDB, PCdoB, PDT, PL, Podemos, PSB, PSD, PSDB, PSL, PSOL, PT, PV e Rede). A cada novo passo, e com algumas concessões táticas, esse conjunto de manifestações tem potencial para fazer crescer a mobilização contra Bolsonaro e interromper de vez seu governo de destruição. Impeachment já