Minas de José Alencar dá exemplo ao Brasil

A possível candidatura do vice-presidente José Alencar ao governo de Minas Gerais não é apenas uma solução de altíssimo nível – eleitoral e programático. É uma evidência de que os malditos problemas da política prática se resolvem quando se põe no comando não as miudezas mas os rumos maiores da grande política, da política elevada. Devia servir de lição, por exemplo, para São Paulo.

Antes dela, Minas aparecia como um problema no mapa pré-eleitoral forças da base de apoio do governo Lula. Estas se dispersavam entre as candidaturas do peemedebista Hélio Costa e dos petistas Patrus Ananias e Fernando Pimentel. O fator José Alencar transformou essas trajetórias divergentes em uma forte convergência. Mais ainda, mostra-se capaz inclusive de erodir a coligação em torno do tucano Antônio Anastasia, vice e candidato a sucessor do governador Aécio Neves.

Tanto Costa como Patrus e Pimentel aceitam retirar-se da disputa para apoiar o vice de Lula. "Se ele for candidato, quero ser o mais importante cabo eleitoral", disse o ministro da Comunicação, recordando as origens peemedebistas de Alencar. O PT mineiro homenageou-o nesta segunda-feira (8) com uma 'filiação honorária' que se transformou em ato de estímulo à candidatura que superaria uma difícil disputa interna. “Acredito que o Alencar será o candidato”, afirmou o deputado Reginaldo Lopes, presidente estadual da sigla. “A candidatura Alencar seria o melhor dos mundos para a disputa de 2010 e também para as forças de centro-esquerda mineiras", avaliou a deputada federal e presidente do PCdoB mineiro, Jô Moraes.

"Faço o que for necessário para arrumar a melhor solução para Dilma em Minas Gerais", foi, segundo jornalistas, a resposta de José Alencar ao presidente Lula, dada na presença de sua virtual candidata, a ministra Dilma Rousseff.

Em Belo Horizonte para receber a homenagem petista, o vice-presidente coloca duas condições para aceitar o desafio. Um é que haja um "palanque limpo", ou seja, sem divergências na base aliada. O outro é o sinal verde nos exames médicos que fará em 17 de março. Aos 78 anos, ele trava há 13 anos contra o câncer. E está vencendo, pois os tumores já se reduziram a 15% de seu tamanho.

O impacto do fator José Alencar não se deve unicamente à maneira corajosa, transparente e bem-humorada com que enfrenta a doença. Grande capitalista e líder empresarial do ramo têxtil, ele quebrou um tabu ao aceitar ser o vice de Lula em 2002. No governo, demonstrou uma lealdade a toda prova. Foi grande e importante até onde divergiu da linha do governo – em especial na campanha incansável que move contra a política de juros altos do Banco Central. É dessa biografia notável que nasce a força unificadora e eleitoral da proposta.

O exemplo mineiro deveria merecer reflexão em outros estados onde as heterogêneas forças do campo de Lula se preparam para outubro. É o caso de São Paulo, onde a alternativa Ciro Gomes governador tropeçou em resistências, primeiro do PT local e a seguir do próprio deputado do PSB.

O caso paulista, até prova em contrário, evolui num sentido oposto ao de Minas. Objetivamente, o primeiro presta um serviço à oposição demo-tucana. O segundo aponta inclusive para além das eleições, na busca de uma frente de centro-esquerda mais sólida, estável e programática para dar sustentação à jornada transformadora iniciada em 2003.