Irã: a mão armada dos EUA pesa mais que a mão da diplomacia

Aquilo que muitos chamam de "política de mão dupla" dos EUA em relação ao Irã (acenar com a diplomacia mantendo um tacape debaixo do braço) revelou sua verdadeira natureza depois que o almirante Mioke Mullen, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas estadunidenses admitiu, em entrevista à britânica BBC, que a maior e mais agressiva potência militar do planeta tem um plano para atacar o país dos aiatolás. "A opção militar tem estado sobre a mesa e segue sobre a mesa", disse ele, confirmando que esta é uma das opções que Barack Obama tem para agir.

Se esta política tem duas mãos, a declaração do almirante deixa claro que a mão armada pesa mais. E complementa a outra. Afinal, a arrogância imperialista só admite negociar se suas imposições forem aceitas previamente – este é o sentido da "revelação" feita por aquele chefe militar.

Nas últimas semanas os jornais noticiaram uma suposta disposição das autoridades de Washington em negociar com o Irã um acordo nuclear exatamente nos mesmos termos daquilo que foi acertado com o Brasil e a Turquia, e que na ocasião a maior potência imperialista solapou com o argumento de que os iranianos não são confiáveis, pretexto usado para adotar sanções ainda mais duras no Conselho de Segurança da ONU. As notícias sobre uma eventual retomada da negociação naqueles termos deixou claro aquilo que todos sabiam na ocasião do acerto entre Irã, Turquia e o Brasil: o Departamento de Estado dirigido por Hillary Clinton não aceitar uma situação de fato que representou a perda da iniciativa diplomática dos EUA e significava um desmentido para as alegações de que é impossível negociar com Teerã. Daí o anúncio de uma retomada das conversações nas mesmas bases só que, agora, a partir da iniciativa do governo de Barack Obama.

Na verdade, os EUA estão numa situação difícil perante o Irã, cujo governo não aceita submeter-se às pressões imperialistas, e tem melhores condições de defender-se de um eventual ataque do que tiveram outras nações da região, como o Iraque ou o Afeganistão, vítimas da agressão militar comandada por Washington.

O próprio almirante Mullen, em sua entrevista, advertiu para as dificuldades concretas que uma ação militar pode enfrentar e que poderá agravar ainda mais o fiasco militar e diplomático dos EUA. Ela teria consequências imprevisíveis, disse ele, podendo desestabilizar todo o Oriente Médio.

Neste ponto o almirante tem razão. A reação das autoridades iranianas às suas declarações foi firme e peremptória. A resposta a um ataque será esmagadora, disse um dos comandantes da Guarda Revolucionária, Yadollah Javani, e ela comprometerá a segurança no golfo Pérsico, rota de petróleo estratégica para o abastecimento dos EUA e da Europa. A segurança no Golfo Pérsico é "para todos ou para ninguém", disse o dirigente iraniano. "Se a segurança nessa região ficar comprometida, eles sofrerão também, e nossa resposta será dura".

Dotado de mísseis capazes de atingir capitais européias e, principalmente Tel Aviv, o Irã tem um poder de dissuasão que, querendo ou não, as potências imperialistas precisam levar em conta no planejamento de qualquer nova aventura guerreira no Oriente Médio.

Há uma luta no mundo pela afirmação soberana das nações que põe em xeque a hegemonia mundial dos EUA. Contra esta tendência, a resposta do imperialismo é a de aprofundar a ameaça militar, aumentar a tensão no mundo, e exibir o tacape contra aqueles que não baixam a cabeça. É um conflito inevitável, diz o ex-presidente cubano, Fidel Castro. Mas ele constata também uma contratendência, movida por forças ligadas ao progresso social, à democracia e à paz. O imperialismo nunca abandonou a política guerreira para impor sua vontade e interesses aos povos, e as declarações do almirante Mullen dissolvem as esperanças vãs e ilusórias de uma mudança pacifista e diplomática sob o governo de Barack Obama. Assim, o caminho da paz será pavimentado pela negociação e pela diplomacia e também por muita firmeza, determinação resistência e luta contra as ameaças imperialistas.