Inaceitável o aumento dos juros; imperativo mudar de política

O Banco Central voltou a elevar na última quarta-feira (20) em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, para 12,5% ao ano. É a quinta elevação sucessiva. Com ela, a autoridade monetária sinaliza que dará continuidade à política de contenção do crescimento econômico, sob o pretexto de diminuir as pressões inflacionárias. O Brasil continua sendo o detentor do nada honroso título de campeão mundial em juros reais ao ano, com nada menos 6,8%, muito distante do segundo colocado, o Uruguai, que figura com 2,4%.

Como é natural, a medida mereceu o repúdio dos trabalhadores e das suas centrais sindicais, assim como de entidades empresariais ligadas à produção e ao comércio.

Ao informar sobre a medida através de comunicado lacônico, o Banco Central substituiu a expressão “ajuste suficientemente prolongado”, para a frase: “(…) decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic para 12,50% ao ano, sem viés”. O enfoque deixou em alguns a impressão de que o ciclo de ajustes para cima da taxa de juros poderá ter sido interrompido e não se repetirá em agosto. Ainda veremos. Em uma semana o Banco Central divulga a ata da sua reunião, em que oferecerá mais detalhes sobre as razões que levaram ao último aumento e sua visão perspectiva. Até lá o “senhor mercado” usará as pressões de sempre para que a autoridade monetária continue capitulando aos seus ditames.

Quando o economista Tombini, de “sólida formação acadêmica” e saído dos quadros “técnicos” da diretoria do Banco Central, foi alçado à condição de presidente da instituição, em substituição a Henrique Meirelles, cuja gestão ao longo dos oito anos do mandato do ex-presidente Lula, correspondeu aos interesses da banca monopolista nacional e internacional, o ministro da fazenda Guido Mantega, comemorou. Na ocasião, declarou que o novo presidente do BC não devia “vassalagem” a esses interesses. É notório que a gestão de Meirelles foi um dos aspectos mais vulneráveis do governo do presidente Lula, aos olhos do movimento democrático, popular e patriótico, que por diversas vezes repudiou a política monetária do Banco Central e denunciou o “rabo preso”, como diz a gíria popular, dessa autoridade com a banca internacional, de cujos quadros (o Banco Boston) saíra seu ex-presidente.

A insistência em uma política sabidamente lesiva aos interesses nacionais e dos trabalhadores, vinculada aos apetites vorazes do mercado financeiro, está a revelar que não basta “solidez acadêmica” e “visão técnica” para se distinguir do ex-banqueiro. O fato é que o Banco Central adquiriu uma autonomia de fato e fechou questão em torno dos dogmas da ortodoxia neoliberal e financista, incompatíveis com uma política de desenvolvimento nacional e progresso social.

Independentemente das especulações quanto ao curto prazo – se em agosto a Selic aumenta ou não outra vez –, muitos estragos já foram feitos.

O aumento da taxa básica de juros é um dos aspectos de um tripé perverso que compromete o desenvolvimento nacional. Os outros dois são o arrocho fiscal e o câmbio sobrevalorizado.

A permanência da política macroeconômica é inaceitável, pois compromete a realização das mudanças ansiadas pelos trabalhadores e o povo brasileiro. Mudar essa política, reorientando suas prioridades para estimular o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional com distribuição de renda e valorização do trabalho, é o grande desafio que deve mobilizar as energias do povo brasileiro, através de suas lideranças políticas e organizações sociais, e a vontade política do governo.